No final dos anos 70, o Ceará passava por um momento histórico no cenário nacional. A primeira revista brasileira de surf, BRASIL SURF, havia revelado Imbiohara, como um “spot” de perfeição incomparável, com um “slogan” que mencionava além daquela onda perfeita o fato do sol nascer atrás da crista da onda. Anos dourados aqueles!
Foi ai que surgiu a paixão por este esporte, que a essa altura já havia se tornado uma tribo intercontinental. Foi justamente nesta época que surgiu uma das proles de maior contingentes do surf cearense, “OS FROTAS”. Liderados pelo espírito coletivo e sempre enfatizando o “soul surf” como estilo de vida, protagonizaram inúmeras aventuras, explorando as praias em busca das ondas e fazendo amizade por onde passavam.
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Família Frota |
O “soul surf” era uma realidade! Embalados pelos festivais, o Ceará se tornou um celeiro do surf nacional, também com a divulgação feita pelo filme “Nas ondas do surf", onde todo o país pode sentir a potência das ondas cearenses. O Paracuru se tornara a direita mais desejada do nordeste.
Minha primeira prancha, uma K&K 6’7”, foi comprada na praia do Lido que serviu para dar o “start” no tão sonhado desejo de deslizar nas ondas. Em meio a essa retórica, todo um contexto foi se solidificando em torno da atmosfera gerada pelo surf.
Em virtude da dificuldade de obter equipamento, muito caro na ocasião, logo surgiu à necessidade de fabricar nossos primeiros projeteis. Foi ai que surgiu a PROMAR, fabriqueta de fundo de quintal que veio contribuir bastante na nossa evolução e também forte aliado nas competições.
Hermano e Demóstenes começaram a se destacar nas competições locais, fato este que rendeu vários troféus e medalhas. Hermano foi quem mais se destacou na mídia, sendo por duas vezes capa do “Instant radical” e pagina dupla do SURF PRESS fruto das inúmeras “trips” para Noronha.
Demóstenes também teve seus momentos de gloria nas competições, sendo por várias vezes mencionado nos boletins de competições, inclusive foi campeão de uma etapa do circuito nordestino (Redley), enquanto que eu me dedicava exclusivamente ao “free surf” e a exploração de um novo horizonte viajando pelo nordeste em busca de ondas maiores e sem crowd.
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Hermano Frota |
No final dos anos 80, logo foi surgindo a nova geração com outro conceito de surf e com pranchas de melhor qualidade, o que se tornou um diferencial na fusão das gerações. Graccho foi o nosso único irmão que se dedicou ao body surf, por conta de uma visão comprometida e por exigência de nossa mãe. Fez parte de uma geração de feras como Francisco Rosa (já falecido) e Biola (com experiência internacional/Hawaii), inclusive tendo vencido um campeonato noturno realizado na Ponte Metálica.
A essa altura, a nova geração formada por Vaslav, Atila e Samuel (sobrinho) tinha finalmente assumido outra postura, incorporando um surf focado nas novas tendências com manobras mais expressivas, resultado natural da evolução do esporte.
Vaslav demonstrando toda sua irreverência explorando “grabs” e lapidando seu bom posicionamento nos tubos do Havaizinho, enquanto Atila, direcionava sua fluidez em manobras como snaps, tail slides e reverses, o que tornou sua marca registrada.
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Vaslav Frota |
Samuel Frota, o mais novo integrante do contingente, com grande vocação e tendo forte influencia dos tios, pôde ao longo destes anos conquistar seu espaço e sempre é destaque nos dias em que a ponte está quebrando lá fora, também é presença marcante nos dias clássicos na Taiba. Hoje, além de cursar a universidade, é gerente da Tent Beach, loja especializada esportes radicais com foco no surf e skate, esporte que também pratica.
Um fato interessante é que a nova geração tem surfado em Imbiohara, hoje conhecida como praia mansa, seguindo os passos do pioneiro que lá surfava com freqüência nos anos 80.
Como precursor desta prole, hoje me sinto a vontade para relatar esta minha feliz escolha. O surf me trouxe muitos momentos felizes nos quais faço questão de dividir, não só com os meus contemporâneos, mas também com a nova geração.
Certamente demos nossa contribuição, explorando o lado positivo do esporte e fazendo uma legião de amigos capazes de testemunhar a nosso favor.
Na eminência de que melhores “swells” ainda estão por vir, estaremos sempre a postos dando um real sentido aos nossos destinos, pois os nossos nomes estão escritos nas paredes das ondas e não nas areias das praias. Aloha.
Por: Esdras Olímpio em 30/12/2011hs.