A música inspira o surf.

Sempre estiveram presentes na minha vida. Chegaram juntos e tomaram conta dos meus pensamentos, fazendo com que, a eles, tudo esteja relacionado.

O surf é o meu estilo de vida. Ele dita o meu ritmo. Um amor que perdura por quarenta anos e está cada vez mais sólido.

A música é essencial. Torna momentos marcantes e inesquecíveis pelo simples fato de estar presente.

Nessa trajetória, já percorremos milhares de quilômetros em busca das melhores ondas, sempre embalados pelo bom e velho Rock 'n Roll.

sexta-feira, janeiro 10, 2020

Meu adeus a Neil Peart


Hoje é dia 10 de janeiro de 2020, início de ano e já recebemos uma notícia triste, o falecimento do nosso querido Neil Peart. Uma bomba que pegou todos de surpresa, sobretudo a despeito da causa, um câncer com o qual ele lutava há três anos sem que ninguém soubesse.

Neil foi um músico marcante, sempre citado entre os melhores do seu instrumento. Compositor, letrista e também um grande escritor. Um homem pacato, perfeccionista, educadíssimo, gentil e sempre generoso com seus fãs.

Lembrar de Neil, em retrospectiva, é lembrar do Rock na minha vida, sim, tanto assim, pois, com uma lembrança muito viva, volto ao ano de 1984, quando mudei de colégio no 2º ano do Ensino Médio. Novato na turma, um tanto estranho, surfista e rockeiro, não me entrosei logo, com exceção da aproximação com outro cara meio esquisito, calado no seu canto, que também curtia um som e tinha alguns discos, razão pela qual nos aproximamos. O maluco gostava de Led Zeppelin, Kiss e Rush. Então, certo dia, ele me chega com uma K7 na qual havia feito uma seleção com essas três bandas. Led e Kiss eu já curtia; Rush não conhecia. Eram músicas do primeiro album do Rush, lançado em 1974.


Posso afirmar que ali começou uma paixão. O Rush já tinha 10 anos de estrada e já havia lançado seus melhores discos. Mas foi depois do grande impacto que aquelas primeiras três músicas me causaram que comecei a comprar todos os lps da banda que conseguia, e foi aí que me apaixonei pelo som dos caras, três músicos excepcionais, Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart, três gigantes gentis. 

Ouvir Rush não é fácil, gostar não é pra qualquer um. A música intrincada, super criativa, tocada com excelência é arte pura. Desde aquele primeiro disco, quando ainda eram uma banda de Hard Rock, quando ainda soavam como o Led Zeppelin, já havia algo a destacar, a complexidade na construção das músicas e a perfeição na execução.

Geralmente os guitarristas ou os vocalistas são os grandes destaques ou os que chamam mais atenção nas bandas de Rock. No Rush, não. Geddy Lee é um baixista fenomenal e um grande vocalista; Lifeson é um exímio guitarrista, embora um tanto subestimado; mas naquela banda tinha um cara chamado Neil Peart, um dos maiores bateristas de todos os tempos, elogiado e sempre citado como referência pelos melhores músicos do mundo, e amado por todos os fãs do Rush. Neil ainda compunha todas as músicas, sozinho ou em parceria com Lee e Lifeson, e sempre foi o principal letrista do Rush.


Neil Peart dedicou a vida a sua família e a sua banda, escrevia por amor e com amor pela literatura, sua outra grande paixão. Dos seus vários livros, "A Estrada da Cura" é meu preferido, é belíssimo, profundamente triste, pois retrata o período mais conturbado e doloroso pelo qual viveu quando perdeu filha e esposa de forma cruel. Quando li esse livro, de certa forma, me senti mais próximo de Neil, pois ele abriu seu coração de forma tão escancarada, revelou seus mais profundos sentimentos, sua dor e desespero, deixou transparecer sua humanidade tão distante quando o vemos como o deus que é.

Tudo isso me faz relembrar quem foi Neil Peart e a importância que teve pra mim, me fez retirar da minha estante todos os dezenove discos que tenho da banda, também os três livros, olhar para eles e refletir um pouco para escrever sobre Neil e sobre mim, um pouquinho dessa nossa história juntos, dessa paixão pela música, da admiração que sinto por músicos como ele, tão grandes e tão distantes no campo físico, porém tão próximos no mental, tão queridos, caras que como ele, quando se vão, deixam um enorme vazio jamais preenchido.

Adeus Neil Peart, muito obrigado por todos esses momentos incríveis que passamos juntos. 

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