- Bom dia! Eu tive uma dálmata...
- Eles são bem simpáticos não?
- São, mas a minha era também muito brava!
- Sério?...
Tive esse pequeno diálogo com um criador que passeava com seu dálmata pelos lagos da orla logo cedo quando fazia minha "trilha" para o surf matinal e isso me trouxe algumas lembranças...
Seu cão era grande e forte, não me pareceu muito simpático. Minha Lua era mais extrovertida, espalhafatosa, sorridente e, quando queria ser, muito brava. Demos esse nome por causa da lua negra que tinha no olho.
Morávamos numa casa com bastante espaço gramado, sem muros, apenas com cerca de arames que a impediam de sair, embora não impedisse que outros animais menos inteligentes pudessem entrar. Estou falando de galinhas, um dos animais menos dotados de inteligência do mundo(já viu como se comportam nas pistas? Elas correm sempre para o lado oposto...).
Tinha um senhor que morava em frente que adorava galinhas, tinha dezenas delas e as criava soltas, mas minha Lua não gostava delas, ficava alucinada quando as tais se aproximavam da cerca e as caçava ferozmente quando as idiotas entravam no nosso território. Era implacável! Não escapava uma(contabilizamos 23, se não me engano). O problema era quando por algum vacilo nosso, deixávamos o portão aberto e a caça era na rua...era uma loucura! Fiquei apavorado quando certo dia ela cismou com um cavalo, pensei que o bicho iria matá-la com seus coices, mas ela era rápida demais para ser atingida...que loucura!
Lua também adorava praia. Quase todos os dias íamos dar uma volta e ela se lambuzava na areia e no mar, corria como louca e fazia buracos que pareciam túneis.
Como ela passava várias horas do dia sozinha enquanto trabalhávamos, quando chegávamos ela enlouquecia, corria como se estivesse fugindo de um monstro e pulava em cima da gente como se quisesse nos derrubar, não tinha jeito, era sua forma de demonstrar carinho.
Mas um dia precisamos nos mudar, e fomos morar em um pequeno apartamento. Foi uma decisão muito difícil, mas não tínhamos como levá-la conosco. Então, fiquei sabendo de um senhor que morava no interior que gostava de cães e se interessou por ficar com ela. Tinha a certeza que seria o melhor a fazer, doá-la. E assim o fiz.
Passado um tempo, um ano eu acho, fui visitá-la, e tamanha foi minha tristeza quando a vi. Nem parecia a mesma. Estava magra, triste, aparentemente maltratada. Fiquei tão emocionado que nem me aproximei muito, pois talvez não suportasse a emoção. Mas eu não podia fazer nada, e saí dali totalmente arrependido do que fiz. Foi uma escolha errada, mas não podia desfazê-la.
Isso já faz muitos anos, e tenho certeza que hoje ela está bem melhor, correndo e sorrindo no céu dos cachorros...