"Meu bem, quando eu estou com você, sou só seu...Quando estou com a minha mulher, sou só dela. Mas quando estou no mar não sou de ninguém..."
Essas são palavras de um pescador, um jangadeiro lá de Recife que li em um livro. Chamou minha atenção pela verdade, sinceridade e coragem desse homem simples, comum, mas que refletem a realidade de um "homem do mar". O pescador é um homem do mar; o jangadeiro; o marinheiro; o surfista também é um homem do mar, e eu sou um surfista.
Quando as li, a princípio pensei que ele estava falando com "a" mulher, mas não estava, estava falando com seu bem, alguém de quem ele gostava e a quem ele se entregava apenas nos momentos nos quais se encontravam. Então as li novamente e percebi, aliás, estava claro que ele tem a sua mulher, esposa, companheira, para quem quando ele volta chama de "minha", a "oficial", a quem ele também se entrega e a quem ele pertence, mas também apenas quando ele volta.
O pescador é um homem do mar, é do mar que ele sobrevive, é no mar onde ele passa a maior parte do tempo, é com quem ele se entende, são cúmplices.
Já li algumas histórias de surfistas assim. até assisti a pouco tempo um documentário sobre surfistas dinamarqueses, sim, daquele gélido país ao norte da Europa. Homens e mulheres totalmente ligados ao mar; eles não são de ninguém, não constituem famílias, sua paixão pelo mar, pelas ondas, não os permitiu vínculo com alguém.
Pessoas assim, pescadores, jangadeiros, surfistas, têm desejos, têm paixões, têm amores, mas têm algo inexplicável mais forte que tudo, algo incontrolável, inconsequente, que faz com que eles larguem tudo em busca daquilo que os completa, da imensidão e mistério do oceano e da energia e beleza das ondas.
Sou um surfista, sou um homem do mar. Quando estou com as pessoas que amo, sou só delas; mas quando estou no mar sou de ninguém...
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