A expectativa de vida da população brasileira é de 75 anos, a inglesa é de 80 anos. Até que a diferença não é tão grande. Mas vamos analisar sob uma outra perspectiva: quem nessa avançada idade permanece ativo, criativo, trabalhando, produzindo com a mesma qualidade que algum dia alcançou? Tenho certeza que praticamente ninguém, poucos são aqueles que ainda estão lúcidos e independentes.
Pois bem, é mesmo um privilégio para poucos. Um desses iluminados chama-se John Mayall. Nasceu e cresceu na Inglaterra. Inclinou-se para a música ouvindo os discos de Jazz e Blues do seu pai, sobretudo os dos guitarristas Big Bill Broonzy, Brownie McGhee, Josh White e Leadbelly. Tão logo ouviu o Boogie Woogie dos pianistas Albert Ammons, Pete Johnson e Meade Lux Lewis, ficou fascinado e não demorou para começar a tocar esse instrumento, assim como a harmônica, influenciado por Sonny Terry, Sonny Boy Williamson e Little Walter. Por esse histórico, pelos nomes que fizeram a cabeça do garoto, percebe-se que a música americana, sobretudo o Blues do Delta, foi a base da sua formação, e o estilo com o qual ele se identificou e difundiu no velho mundo a partir de meados da década de sessenta.
Mais de cinco décadas passaram-se e o que esperar desse cara que lançou seu primeiro disco em 1965, há 52 anos, e sempre se manteve na ativa? Não muito, pois quem depois de mais de sessenta discos lançados conseguiria superar-se e surpreender seus fãs com um trabalho tão bom quanto os melhores da sua imensa discografia? Pois ele conseguiu.
"Talk About That" acaba de ser lançado. É o 65º disco de Mayall, um album pautado no estilo que percorreu por toda sua carreira, o Blues. Ele canta, toca guitarra, piano e harmônica. São onze faixas, todas de sua autoria. É preciso ouvir esse disco para acreditar no que estou dizendo. É simplesmente surpreendente como ele permanece tão bom quanto antes, até a voz, que normalmente se desgasta com o tempo, está a mesma.
A faixa título, "Talk About That", "The Devil Must Be Laughing" e "I Didn't Mean to Hurt You" são as minhas preferidas, mas todo o disco é bom, homogêneo. Não chega a ser um clássico, nem acredito que tenha sido concebido com esse propósito, todavia pode ser que seja o último de Mayall, e seria uma ótima deixa para encerrar sua brilhante carreira.
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