Hoje quero compartilhar um tesouro que está completando 50
anos. Não foi relançado, não está disponível no mercado, não é
um disco popular e nunca teve sucesso comercial, porém é fenomenal.
Conseguir
um exemplar original de época é tarefa árdua, é preciso muito
empenho, contatos no exterior com disposição e paciência para
mergulhar no mercado negro até encontrar alguém que possua uma
cópia em bom estado e esteja disposto a vender, e ainda tenha
certeza que precisará dispor de uma boa quantia em dólares para
adquirí-la.
Bom,
eu fiz tudo isso e consegui. O meu chegou recentemente, com 50 anos
de idade e novinho como se estivesse em um baú, lugar onde se guarda
e esconde jóias raras como essa. É algo quase inacreditável, uma
sensação indescritível, imaginar como pode um disco ficar tanto
tempo, meio século, e ainda estar em perfeitas condições, capa e
mídia, qualidades que só um bom disco de vinil é capaz de
perpetuar.
East-West
é o segundo disco da carreira de Paul Butterfield, um gaitista de
Chicago. Seu talento lhe proporcionou aproximar-se de grandes músicos
da época. Lembrando que era meados dos anos 60, quando o blues,
o soul e o jazz dominavam a cena musical ao tempo em
que passavam por uma tremenda transformação, eletrificando-se,
tanto na América, como na Europa.
Um
desses músicos foi Elvin Bishop. Eles se conheceram por acaso,
quando Paul praticava na sua varanda e Bishop, de passagem pela rua,
ouviu aquele som e aproximou-se, surgindo dali uma grande amizade e
parceria. Juntos foram aceitos no circuito de clubes onde só tocavam
os grandes standarts, Otis Rush, Muddy Waters e Howlin' Wolf, com
quem os dois passaram tocar regularmente, até quando decidiram
formar a própria banda.
Jerome
Arnold(baixo) já tocava com eles. Convidaram então Mark
Laftalin(órgão e piano) e Billy Davenport(bateria), mas sentiram a
necessidade de contratar outro guitarrista. Essa foi uma grande
sacada e o escolhido não poderia ser melhor, Mike Bloomfield.
Com
essa formação fantástica, em 1966, lançaram este petardo de blues
com nove faixas. Aqui não se ouve, como era de costume na época,
garotos brancos homenageando os mestres do blues, mas sim seis
jovens - quatro brancos e dois negros - com muito feeling
absorvido pela região onde nasceram e cresceram, fazendo sua própria
música, conquistando um espaço dominado pelos negros.
Esse
time conseguiu, sobretudo neste disco, atingir um nível de
excelência tão alto que chega a ser estupendo. Já escutei alguns
outros trabalhos deles, todos muito bons, mas esse é especial, o
nível aqui é excepcional. Você põe o disco na vitrola e logo se
espanta com a musicalidade, com o conjunto, o ritmo contagiante, o
groove jazzistico, o baixo elegante e vigoroso, os solos sensacionais
dos dois guitarristas que, mesmo em início de carreira, estão tão
à vontade e soltos como feras predadoras no seu habitat.
Desde
o dia que peguei este álbum que ele tomou conta da minha pick up
e não tenho escutado outra coisa, estou completamente envolvido com
ele, e não é pra menos, garanto. Sugiro para quem curte blues
com pitadas de jazz recheado de guitarras e gaitas que
procurem ouvir esse disco, todo ele, faixa a faixa, para sentir uma
música que, embora esteja completando 50 anos, é tão atual e
apaixonante, tão distante da mesmice da maioria que a industria se
esforça para massificar. É um álbum único e indispensável.
Com
essa fantástica formação, em 1966, lançaram este petardo de blues
com nove faixas. Aqui não se ouve, como era de costume na época,
garotos brancos homenageando os mestres do blues, mas sim seis
jovens - quatro brancos e dois negros - com muito feeling
absorvido pela região onde nasceram e cresceram, fazendo sua própria
música, conquistando um espaço dominado pelos negros.
"Walkin Blues" abre o disco com uma faixa carregada de peso, bem marcada e com solos de gaita e guitarra. "Get out of my life, womam" é muito sensual, cheia de feeling, enriquecida pelo piano e ritmo jazzistico. "I got a mind to give up living" é um dos pontos altos do disco, é um blues que retoma as raízes, vocais rasgados e profundos solos de guitarra. "All these blues" não vai deixar você parado, tem muito groove. "Two trains running" introduz a força do rock na essência da banda, muito da influência de Bloonfield. "Never say no" é puro lamento, uma carta de amor como o blues é por natureza. O disco encerra com a faixa título, outro ponto alto, longa, quase como uma jam, com treze minutos nos quais todos participam ativamente, é outra faixa jazzistica com muitos solos de guitarra e gaita onde os músicos literalmente se apresentam individualmente e como banda demonstrando muita afinidade, uma viagem sonora com vários climas que se interligam e chegam ao clímax desse maravilhoso álbum que deveria estar em qualquer coleção de quem é fã da extraordinária música dos anos '60.
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