Eu já devo ter falado isso aqui algumas vezes, mas não me canso, é que com certa frequência escuto o absurdo de algumas pessoas que, ou por preguiça ou por falta de interesse, limitam-se a ouvir apenas o que a mídia expõe e dizem que o Rock morreu, que não se faz mais nada que preste.
Às vezes, dependendo da pessoa da qual escuto isso, tenho um ataque de fúria ou sinto pena, coitados...Existe sim, uma imensidão de músicas de péssima qualidade, conquanto existe na mesma proporção um universo de ótimas bandas, das mais variadas regiões do mundo, e de várias vertentes da música que estão sempre gravando e produzindo música da mais alta qualidade.
O Sister Sparrow & The Dirty Birds é uma dessas que se destacam pela originalidade e qualidade, para não falar somente da sua maravilhosa vocalista, Arleigh Kincheloe, que já seria motivo suficiente para adorarmos a banda. Sua voz é encantadora e poderosa, assim como é sua beleza física, o que não vem ao caso, só estou citando porque é impossível não falar nisso...
Formada em 2008 no Brooklyn, Nova York, eles acabam de lançar seu terceiro disco mantendo-se fiel às suas origens, fazendo blues contemporâneo com belíssimas harmonias e uma pegada pop, deixando o som leve e acessível, efeito causado pela super banda formada por seis excelente músicos, que tocam desde harmônica, metais, violoncelo, além dos instrumentos tradicionais.
Comprar discos atualmente é uma prática incomum, restrita a poucos. O consumo de música hoje é quase que totalmente virtual, por diversas razões. No entanto, ainda sobrou uma pequena parcela de consumidores que não se contentam com os arquivos digitais, gostam de sentir o papel e o plástico nas mãos, gostam do cheiro do produto, encantam-se com as artes das capas e encartes, querem as informações contidas nas caixas, estão dispostos a pagar por tudo isso. Faço parte desse grupo há muito tempo. Sou do tempo do vinil e das fitas K7, esses foram os formatos que comecei a consumir. Naquela época, havia lojas de discos nessa cidade, "A Modinha", "A Sugestiva", "Cantinho da Música", "Cine Foto Walmir", minha preferida, onde passava várias tardes ouvindo discos e descobrindo músicas, onde deixava todas as minhas economias.
Não vou conseguir lembrar o ano, faz muito tempo, mas lembro muito bem quando vi na loja do Luciano essas duas caixinhas de CDs, duplas, com o melhor de John Mayall, que na época só conhecia um disco no qual Eric Clapton havia participado, disco esse que comprei no "Cine Foto Walmir". Não havia internet nesse tempo, não tínhamos acesso às informações como agora, tudo era muito difícil, como era difícil para mim comprar essas coisas, eram muito caras para um garoto estudante de classe média.
Lembro que fiquei dias namorando aquelas duas preciosidades. A loja havia recebido apenas uma de cada, mas eram caras para o tempo e ambas ficaram lá por um bom período até que um dia, alguém as levou. Fiquei triste, nunca as esqueci. Mantive a esperança de um dia reencontrá-las. Passaram-se anos e nem lembro onde, mas certa vez encontrei uma delas, a segunda, "Room To Move", que abrange o período de 1969-1974. Dessa vez não deixei escapar. Isso já faz mais de dez anos e nunca encontrei a primeira, mas também nunca desisti.
Nesse último sábado, dia que costumo frequentar a Freedom, loja/sebo do meu amigo Silvio Campos, "herói da resistência", que consegue manter viva uma loja especializada em discos de rock e blues, ponto de encontro de amigos de longas datas, apaixonados por música no seu formato físico, estava admirando as paredes repletas de fotos, cartazes e discos raros, paredes que já vejo há anos, mas nunca me canso de olhar, quando percebo numa prateleira desorganizada, aquela caixinha que ficara na minha memória por longos anos. Pedi ao Silvio para pegá-la e ele disse que um cara havia deixado lá para vender, mas que ele iria devolver porque um dos discos era cópia, o original havia sido perdido.
Era uma pena muito grande ver tal peça incompleta, mas ainda assim era ela, a "London Blues", de 1964-1969. Ali estava a caixinha que por mais de vinte anos estive esperando encontrar. Não perderia essa oportunidade, mesmo nas condições em que se encontrava. Não a larguei mais, ela iria comigo para a minha prateleira e ocuparia um lugar de destaque.
O Oi Rio Pro é a quarta etapa do circuito da WSL este ano que começou com a avalanche causada pelos brasileiros nas etapas australianas. Nunca se viu nada parecido, o ranking chega ao Brasil com Adriano de Souza em primeiro e Filipe Toledo em terceiro. Com os dois wild cards também brasileiros, Davi do Carmo e Alex Ribeiro, ao todo o time brazuca começa com 10 surfistas, algo inédito.
No primeiro round, onde quem vence sua bateria passa direto para o terceiro round e os dois que perdem disputam uma repescagem, o grande destaque foi Kelly Slater, que fez duas notas quase perfeitas, 9,5 e 9,77. Adriano também fez duas ondas excelentes, uma delas, um 9,73. Tivemos seis brasileiros vencedores: Wiggoly Dantas, Gabriel Medina, Italo Ferreira, Adriano de Souza, Jadson André e Filipe Toledo, todos já estão garantidos para o terceiro round.
Depois de um dia de descanso, na quinta feira foram para a água as baterias do round 2. Infelizmente todos os quatro brasileiros perderam. Alejo foi o único a ameaçar uma vitória, numa bateria de notas baixas, ficou por pouco atrás de Taj. Miguel surfou muito bem, fez um lindo tubo, mas pegou um Adam Melling inspirado. Mick Fanning mostrou extrema superioridade sobre David do Carmo, e John John forçou a barra nos tubos e conseguiu convencer os juízes para vencer Alex Ribeiro.
John John abriu o terceiro round dando show num mar com ondas difíceis, fechadeiras, marcando 18,77, maior pontuação do round. Na sequência, Filipe Toledo mais uma vez extrapolou, pegou um tubaço e mandou um aéreo gigante para marcar 15,60 e despachar Wiggoly Dantas. Na terceira bateria, uma surpresa, Kelly arriscou muito, mas caiu nas melhores manobras e perdeu. Italo Ferreira e Jadson André passaram suas baterias, mas infelizmente, Adriano de Souza e Gabriel Medina, mesmo surfando muito, perderam. Assim, dos seis brazucas, metade avançaram e metade deram adeus ao campeonato.
Round 4 é também "No Losers", onde ninguém é eliminado. São quatro baterias nas quais os vencedores avançam para as quartas de final e os outros vão para mais uma repescagem. Filipe Toledo arrebentou e passou direto. Jadson também venceu e deixou Italo em segundo. Josh Kerr e Matt Wilkinson também se garantiram.
Na repescagem, Italo pegou John John, que até então vinha dando show, mas que nessa bateria não achou nada, enquanto Italo usou seus aéreos de back side para levantar a praia e marcar 15,73 contra 4,87 de JJ. Na última bateria, Mick Fanning também perdeu, o que foi ótimo para Adriano.
Quartas de finais e os três brasileiros ainda estavam "vivos". Na primeira, mais uma vez, Filipe Toledo mostrou-se invencível. A praia estava lotada e ia à loucura com Filipe. Nunca se ouviu tantos gritos numa bateria de surf. Filipe usou manobras inovadoras e aéreos até cravar as quilhas na areia para marcar 8,33 e 6,67. Os seguranças tiveram muito trabalho....Na segunda, Italo e Jadson se enfrentaram. Foi um vira-vira do início ao fim, com Italo saindo vencedor por muito pouco. Bede Durbidge e Matt Wilkinson iriam completar as semis.
Semi Finais na água. Domingão de sol, praia lotada, Filipe e Italo passam pelas areias ovacionados. Mesmo numa condição de mar desfavorável para o nível do campeonato, Filipe abre a bateria com um aéreo full rotation incrível e descola um 8,93. Na sequencia, pega uma esquerda e destrói com um floater e duas batidas invertendo tudo, nota 7,00. Italo arrisca tudo em um aéreo mas cai. Começa a pegar ondas intermediárias que não chegam a ameaçar, ficando toda a bateria em combinação. Filipe está na final. Bede Durbidge e Matt Wilkinson, dois australianos na segunda semi. Com uma abordagem totalmente diferente da bateria anterior, Bede abre bem a bateria com um seu surf forte e pesado de back side, com batidas verticais imprimindo muita pressão garantindo logo duas boas ondas, 6,73 e 6,33. Matt parecia desconectado, pegando só ondas fracas. Na sua terceira onda, Bede mostrou muita competência variando três manobras com um aéreo 360º, nota 7,10, e logo depois, outra boa, 7,53, fechando a bateria.
Chegamos a grande final, Brasil x Australia. Surfistas de gerações diferentes, de abordagens também diferentes. Filipe abre com uma onda regular, melhora na segunda com um 6,17 e ai extrapola tudo numa parede de direita onde ele impõe velocidade e executa um aéreo full rotation perfeito! Nota 10 unânime!! Embora tenha quebrado a prancha na onda anterior, pega sua prancha reserva e vem noutra onda excelente executando quatro manobras mostrando um vasto repertório, aéreo e de borda, nota 8,33. Bede também surfa bem, seu back side é poderoso, mas é preciso muito mais que isso para bater Filipe. Não há muito o que fazer, chega a ser desproporcional, ou até injusto, nessa condição de mar, ninguém ameaça Filipe. Esse garoto é fenomenal! Ele já estava totalmente garantido na bateria, mas ainda pegou outra onda excelente e marcou 9,87, fechando essa incrível final com a maior média de todo o campeonato, 19,87!!
Não poderia ser de outra forma, desde a primeira fase Filipe mostrou que estava ali para vencer, para dar show, para mostrar ao mundo a direção que o surf segue, quem são os novos nomes do esporte, qual é o país do surf.
Finalizada essa quarta etapa, com esse resultado, Filipe sobe uma posição no ranking, ficando agora em segundo, atrás do líder absoluto Adriano de Souza. Que venha Fiji!!
Não é todo dia que se encontram "pedras preciosas" como essas em vinil, The Jimi Hendrix Experienced: Are You Experienced?, primeiro álbum do cara, lançado em 1967; e Axis Outtakes, álbum duplo com versões e sobras de gravação dos dois primeiros discos de Hendrix, que só saiu lá fora em 2003.
A coleção valorizou bastante, e ainda estou esperando mais cinco clássicos que devem chegar na próxima semana, entre eles, um dos discos mais raros e valiosos do mercado, mas falo dele depois...
Banda de Hard Rock Psicodélico das Filipinas do início dos anos '70, Juan de la Cruz é tão obscura quanto rara. Juntaram-se em 1968 e levaram três anos, com várias mudanças na formação, até gravarem seu primeiro disco, "Up in Arms". O disco não fez nenhum sucesso, mas os caras insistiram e ainda fizeram novas mudanças, passando a power trio e lançaram em 1973 "Himig Natin", que teve uma melhor aceitação comercial, mas depois disso a banda dissolveu-se deixando apenas esses dois registros históricos numa terra com nenhuma tradição rockeira.
Grusom, banda dinamarquesa que retoma as raízes do hard setentista. Seu primeiro álbum ainda não foi lançado, está previsto para julho, apenas uma música foi disponibilizada pela gravadora para sentirmos um gostinho do que vem por aí. Em 2014 saiu um ep com três faixas bem obscuras. Um petardo é o que se espera.
Ano passado, John Garcia lançou um petardo, um disco excelente. Várias vídeos desse material já foram lançados, e agora saiu "Her Bullet's Energy, última faixa do álbum, com uma participação mais que especial, Robby Krieger, do The Doors, arrebentando no violão acústico ao lado de Garcia. De arrepiar!!
Ontem no Teatro Tobias Barreto aconteceu o lançamento do DVD do The Baggios em comemoração aos 10 anos de carreira, um marco. Uma banda que venceu mantendo-se fiel às suas raízes, conquistando um enorme público de várias idades e de todas as regiões do país.
O show foi maravilhoso! Fizeram a escolha certa pelo teatro, pois tanto o som estava perfeito, limpo, com uma acústica excelente, como a iluminação foi de muito bom gosto. O repertório resgatou tanto os sucessos antigos, como novos lançamentos. Acertaram em convidar músicos que se destacam na cena local e que muito engrandecem o som da banda. Julio Rêgo, com sua gaita blueseira, arrebentou, e Vinícius BigJohn fez muito bonito com sua sanfona psicodélica.
É bonito ver tudo isso acontecer, pois sabemos como é difícil chegar aonde esses caras chegaram tocando Blues e Rock and Roll numa cidade como a nossa, ainda mais vindos do interior. Vida longa a nossa melhor representante.
Maio é o mês do surf no Brasil. Há muito que nosso país deixou de ser o país do futebol, embora ainda tenha esse esporte enraizado na sua cultura, aos poucos isso vem mudando. Muitos ainda não enxergam, seja por ignorância, falta de oportunidades ou por se beneficiarem da antiga situação. A grande mídia é um exemplo, oportunista ao extremo.
O Brasil realizou ano passado uma Copa do Mundo de Futebol, vai realizar as próximas olimpíadas, milhões são investidos nesses gigantescos eventos sem que nos tragam o retorno esperado. Todo esse dinheiro deveria ser aplicado na qualidade de vida do cidadão que nesse país ainda pena para ter o básico, a dignidade garantida numa constituição ignorada.
Pulando esse triste parágrafo, vamos voltar ao surf que é um dos esportes que mais cresce em todo o mundo e que tem nos trazido grandes alegrias com os resultados alcançados nos últimos anos. Quando digo que o Brasil é o país do Surf não é à toa, não é um título conquistado de uma hora para outra. Foram muitos anos de aprendizado, de lutas e derrotas que nos ensinaram o caminho a seguir. Aprendemos que talento e vontade não bastavam. A Austrália tinha a receita, dominava o esporte, embora o maior surfista de todos os tempos seja americano e esteja no topo há vinte anos, com 11 títulos mundiais, mas esse cara é um fenômeno à parte.
As associações, os clubes e as federações perceberam que para fazer um campeão leva-se anos, que é preciso treinar e preparar garotos desde cedo com esse objetivo, e assim foi feito. As estrelas que brilham no Brasil de hoje vêm sendo preparadas para isso há quase uma década, e só agora, digo de uns dois anos pra cá, os objetivos estão sendo alcançados.
2014 vai ficar na história do surf como o ano do Brasil. Em três dos principais rankings da Liga Mundial de Surf os brasileiros foram campeões: Silvana Lima no Qualifying Series Feminino(2ª Divisão), Filipe Toledo no Qualifying Series Masculino(2ª Divisão), e Gabriel Medina conquistou o título máximo do esporte. Foram resultados construídos ao longo de todo o ano com o empenho e dedicação de equipes inteiras, com o apoio de empresas patrocinadoras, mas não de um governo que não enxerga o potencial que esse país tem, não investe onde não possa desviar parte do dinheiro.
2015 não começou diferente. Se no ano passado, na primeira etapa que sempre acontece na Austrália, o campeão foi o Gabriel Medina, passando a ser o líder do circuito, esse ano foi o Filipe Toledo que estragou a festa dos australianos. Foi para a segunda etapa como líder e embora tenha sido vencida pelo Mick Fanning, manteve-se na liderança empatada com o Australiano pelo seu excelente 5º lugar. Veio então a 3ª etapa, também na Austrália, e quem venceu? Adriano de Souza, que já tinha conquistado um 3º e um 2º lugares nas duas primeiras etapas. Com isso, passa a líder absoluto do ranking da WSL.
A essa altura, os brasileiros também dominam a segunda divisão, com Alejo Muniz liderando e Filipe Toledo em segundo lugar, após sua estrondosa vitória no primeiro dos dez eventos com pontuação máxima(10.000 pts).
Essa semana o circuito inteiro vem para o Brasil, começa a "perna" brasileira com o Quiksilver Pro Saquarema, segunda etapa do Qualifying Series com 10.000 pontos em jogo, e na semana seguinte o Oi Rio Pro, quarta etapa da WSL e o Oi Rio Women's Pro. Dois eventos importantes, milhares de dólares em jogo, além das disputas pelos pontos para os rankings mundiais. Ótimas oportunidades para o "time" brazuca.
Não temos "Maracanãs" nas praias do Rio, mas arenas serão formadas, multidões tomarão conta das areias e outros milhares acompanharão tudo pela internet. O surf está no Brasil há pouco mais de cinquenta anos, criou raízes, cresceu absurdamente e dá excelentes frutos. Milhões de brasileiros já provaram e se apaixonaram por tudo que envolve esse estilo de vida. Já temos a "nossa" cultura surf, hoje somos o Brasil do Surf.