Comprar discos atualmente é uma prática incomum, restrita a poucos. O consumo de música hoje é quase que totalmente virtual, por diversas razões. No entanto, ainda sobrou uma pequena parcela de consumidores que não se contentam com os arquivos digitais, gostam de sentir o papel e o plástico nas mãos, gostam do cheiro do produto, encantam-se com as artes das capas e encartes, querem as informações contidas nas caixas, estão dispostos a pagar por tudo isso. Faço parte desse grupo há muito tempo. Sou do tempo do vinil e das fitas K7, esses foram os formatos que comecei a consumir. Naquela época, havia lojas de discos nessa cidade, "A Modinha", "A Sugestiva", "Cantinho da Música", "Cine Foto Walmir", minha preferida, onde passava várias tardes ouvindo discos e descobrindo músicas, onde deixava todas as minhas economias.
Não vou conseguir lembrar o ano, faz muito tempo, mas lembro muito bem quando vi na loja do Luciano essas duas caixinhas de CDs, duplas, com o melhor de John Mayall, que na época só conhecia um disco no qual Eric Clapton havia participado, disco esse que comprei no "Cine Foto Walmir". Não havia internet nesse tempo, não tínhamos acesso às informações como agora, tudo era muito difícil, como era difícil para mim comprar essas coisas, eram muito caras para um garoto estudante de classe média.
Lembro que fiquei dias namorando aquelas duas preciosidades. A loja havia recebido apenas uma de cada, mas eram caras para o tempo e ambas ficaram lá por um bom período até que um dia, alguém as levou. Fiquei triste, nunca as esqueci. Mantive a esperança de um dia reencontrá-las. Passaram-se anos e nem lembro onde, mas certa vez encontrei uma delas, a segunda, "Room To Move", que abrange o período de 1969-1974. Dessa vez não deixei escapar. Isso já faz mais de dez anos e nunca encontrei a primeira, mas também nunca desisti.
Nesse último sábado, dia que costumo frequentar a Freedom, loja/sebo do meu amigo Silvio Campos, "herói da resistência", que consegue manter viva uma loja especializada em discos de rock e blues, ponto de encontro de amigos de longas datas, apaixonados por música no seu formato físico, estava admirando as paredes repletas de fotos, cartazes e discos raros, paredes que já vejo há anos, mas nunca me canso de olhar, quando percebo numa prateleira desorganizada, aquela caixinha que ficara na minha memória por longos anos. Pedi ao Silvio para pegá-la e ele disse que um cara havia deixado lá para vender, mas que ele iria devolver porque um dos discos era cópia, o original havia sido perdido.
Era uma pena muito grande ver tal peça incompleta, mas ainda assim era ela, a "London Blues", de 1964-1969. Ali estava a caixinha que por mais de vinte anos estive esperando encontrar. Não perderia essa oportunidade, mesmo nas condições em que se encontrava. Não a larguei mais, ela iria comigo para a minha prateleira e ocuparia um lugar de destaque.
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