Nessa época do ano, quando chega o outono, volto à minha casa no campo para alguns dias de reflexão. O clima aqui é agradável, as manhãs são limpas, as tardes coloridas e as noites melancólicas. Não há vida como nas primaveras, mas não é vida que venho buscar. O cenário é o bastante. Sentar-me à varanda nas noites de céu estrelado, a lua refletindo no lago, sentir o cheiro das árvores que dançam no ritmo dos ventos que sopram do norte e acariciam minha pele. O calor absorvido pela madeira deixa a casa aconchegante, as chamas ardentes da fogueira são convidativas. O vinho que ficou do ano passado é quente e apura meu paladar. Não há com quem compartilhar o que sinto, apenas sinto.
Esse é o cenário imaginário criado pelo som desse inglês de família rica que ainda criança aprendeu com a mãe a tocar piano, mas, embora também tocasse outros instrumentos, descobriu-se em 1965 quando comprou seu primeiro violão, e fez sua curta e magnífica carreira calcada nos experimentalismos com afinação própria desse instrumento.
Em 1967 experimentou a guitarra acústica, a maconha e o LSD quando viajou ao Marrocos. Descobriu o folk e influenciado por Bob Dylan começou suas apresentações em clubes locais, quando foi descoberto por um membro da banda Fairport Convention que o apresentou ao seu empresário e não demorou para lançarem seu primeiro álbum, o maravilhoso Five Leaves Left. Bryter Layter e Pink Moon completam sua obra.
"Eu não sinto nenhuma emoção sobre nada.
Eu não quero rir ou chorar.
Estou dormente; morto por dentro."
(Nick Drake no auge da depressão)
Nick era altamente depressivo, solitário, nunca teve um relacionamento amoroso, poucos eram seus amigos. Um gênio introspectivo que desistiu da vida e do mundo muito cedo com uma sobredosagem de medicamentos.
Lançado em meados da década de '80, Time Of No Reply combina faixas de seus álbuns, outtakes e versões alternativas. É um disco lindo, melancólico, reflexo do que foi esse homem conturbado pela sua essência que encontrou na sua música a fuga do mundo real e fez dela um cenário imaginário perfeito para deleite daqueles que viveram outros outonos.
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