Ontem, dia 17 de dezembro de 2015, deve ser reconhecido como o Dia do Surf no Brasil. Não por um fato isolado, mas pela concretização e realização de dezenas deles, de milhares, senão milhões de sonhos, pela derrubada de uma barreira gigantesca que havia no circuito mundial em desfavor do surf brasileiro, pela magnífica vitória de Adriano de Souza no Pipeline Masters, um dos eventos mais tradicionais e emblemáticos do esporte, pela vitória de Gabriel Medina na Tríplice Coroa Hawaiana, o conjunto das três etapas que todos os anos acontecem no Hawaii no encerramento do circuito e que é considerada a segunda mais importante conquista depois do título mundial, e ainda, a mais importante de todas, a conquista do título mundial pelo Adriano de Souza.
O título mundial de surf não é como uma copa do mundo de futebol, não é um evento isolado; é uma maratona que dura dez meses e percorre nove países; é a soma dos nove melhores resultados em onze eventos que acontecem em condições adversas, em ondas pequenas, médias e grandes, em águas quentes e frias, em esquerdas e direitas, onde é exigido dos surfistas muito preparo físico e mental; técnica e tática; frieza e concentração; foco, vontade, garra e muita atitude.
Alguns surfistas são especialistas em determinadas condições, mas pecam em outras; ganham etapas, mas afundam-se em outras. Estes nunca chegarão ao título. Para ser um campeão mundial de surf é preciso ser completo, e poucos conseguem essa façanha.
Adriano de Souza é completo. Isso não quer dizer que ele é o melhor surfista do mundo, ele não é. Ele é o atual campeão do mundo, e é merecedor desse título mais do que qualquer outro. Mick Fanning poderia ter sido o campeão, chegou muito perto, e também seria merecedor, assim como o Gabriel, o Julian Wilson e o Owen Write. Esses foram os melhores surfistas desse ano.
E o Filipe Toledo? Não esqueci dele, apenas não o coloco como merecedor desse título, ainda! Filipe é excepcional em ondas pequenas, muito bom em ondas médias, mas muito fraco, despreparado e sem atitude quando o mar sobe, então ainda não chegou a hora dele, porém acredito que isso é uma questão de pouco tempo.
Eu poderia neste espaço contar a história de Adriano, mas não o farei, pois muitos o farão. No entanto, quero homenageá-lo. Como acompanho o circuito desde outras gerações, vi muitos entrarem e saírem, alguns ficaram por mais tempo, outros caíram rápido; alguns chegaram a conquistar boas posições e até vencer etapas e deixaram suas marcas, mas ninguém foi tão sólido quanto esse cara, ninguém permaneceu por tanto tempo nas primeiras posições, ninguém chegou a ser reconhecido pelos estrangeiros como um cara que realmente poderia chegar lá, e até mesmo por nós brasileiros, que embora torcedores, sabíamos das nossas deficiências e reconhecíamos a soberania australiana e americana; até que Adriano começou a mudar essa situação. Não foi de repente, como muitos podem pensar, foi um longo e árduo caminho de derrotas, de frustrações, de falta de apoio, de várias intempéries que derrubariam um exército inteiro, um a um, menos ele, ele nunca desistiu, brigou e enfrentou gigantes, derrubou vários, apanhou e levantou, acreditou mais do que todos no seu sonho, no seu potencial e foi galgando o respeito e o reconhecimento. Em toda sua trajetória, nunca ameaçou o título, mas esteve sempre perto, sempre entre os dez, algumas vezes entre os cinco, o que já bastaria para satisfazer qualquer um, menos ele.
Quando o circuito desse ano começou na australia, Adriano fez um 3º, depois um 2º e um 1º lugar. Com isso ele ficou isolado na ponta do ranking. Manteve-se ainda na liderança por algum tempo até que Filipe o ultrapassou e depois Mick Fanning passou os dois, mas Adriano não caiu, esteve sempre alí, na cola, em segundo ou terceiro, até chegar ao fim do ano com grandes chances de conquistar seu tão sonhado título. Porém, além dele, mais cinco surfistas tinham chances reais. Eram três australianos e três brasileiros. Mick era o favorito, estava na frente e é o mais experiente em Pipeline. Owen Write se machucou na véspera e deu adeus a disputa. Filipe, como esperado, decepcionou. Julian surfou bem, mas dependia da derrota de Fanning, o que não aconteceu, então também ficou de fora. Gabriel deu show, venceu todas as suas baterias com muita propriedade, inclusive a semi-final contra Mick, só que também dependia do resultado deste, e àquela altura já o tinha tirado da disputa. Na outra chave, nesse momento, Adriano encontrava-se com Mason Ho, um local conhecedor do pico, mas limitado competitivamente, e Adriano, caso o vencesse, passaria à final e automaticamente já conquistaria o grande troféu.
E assim o foi. De todos os gigantes, um a um foi caindo frente a esses dois excepcionais surfistas brasileiros que nesses últimos anos tanto abrilhantaram nosso esporte, tanto orgulho nos deram, mudaram a imagem que tínhamos lá fora e ainda mudaram a imagem do esporte dentro do nosso país.
Ensinaram muito, deram lições de perseverança, de fé, de profissionalismo, da força que emana do sonho. Agora seremos vistos com outros olhos, seremos respeitados como nunca fomos. Juntos conquistaram o mundo e levantaram a moral e o orgulho dos brasileiros. Meus parabéns aos dois, vocês são ídolos.
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