A música inspira o surf.

Sempre estiveram presentes na minha vida. Chegaram juntos e tomaram conta dos meus pensamentos, fazendo com que, a eles, tudo esteja relacionado.

O surf é o meu estilo de vida. Ele dita o meu ritmo. Um amor que perdura por quarenta anos e está cada vez mais sólido.

A música é essencial. Torna momentos marcantes e inesquecíveis pelo simples fato de estar presente.

Nessa trajetória, já percorremos milhares de quilômetros em busca das melhores ondas, sempre embalados pelo bom e velho Rock 'n Roll.

terça-feira, agosto 30, 2016

Rory Gallagher and Taste


Irlanda, agosto de 1966. Rory Gallagher(guitarra), Eric Kitteringhan(baixo) e Nornan Damery(bateria) formam uma banda de blues e começam a tocar pelos bares e clubes da região. Em 1968 Rory dispensa seus amigos e chama Richard MacCracken(baixo) e John Wilson(bateria), mudam-se para Londres e assinam um contrato com a Polydor sob o nome "Taste". A gravadora então coloca-os para abrirem os shows do "Cream" a fim de promovê-los. Depois mandou-os para os Estados Unidos e Canada acompanhando o "Blind Faith". Foi uma grande oportunidade pois essas duas bandas eram super respeitadas, tinham Eric Clapton e Stevie Winwood como estrelas mundiais.


No início de 1969 eles lançaram o primeiro disco, "Taste", e um ano depois o segundo, "On The Boards", ambos com influências de Jazz, inclusive com Rory tocando Saxofone em diversas músicas. Era o ano do grande festival da Ilha de Wight, onde tocaram The Doors, The Who, Jimi Hendrix, entre muitas outras bandas de sucesso e eles se apresentaram num grande show com Rory simplesmente destruindo, mostrando todo seu virtuosismo, e seus parceiros também não fazem por menos. Esse registro foi gravado e  lançado em dezembro de 1971, quando a banda já havia terminado, com Rory partindo para carreira solo.


Rory era um vulcão em erupção, estava compondo exaustivamente e logo formou outra banda com Gerry McAvoy(baixo) e Wilgar Campbell(bateria) e ainda em 1971 lançou dois discos, o primeiro, chamado "Rory Gallagher", com participação de Vincent Crane no piano, e "Deuce", no final do ano. Dois discos excelentes que mostravam uma grande banda, não apenas um maravilhoso guitarrista.


No primeiro álbum, "Just the Smile" é de uma sutileza sublime, "Wave Myself Goodbye" é um blues de raízes profundas. Em "For the Last Time" Rory dedilha e sola como um mestre, sua guitarra transborda sentimento, além de cantar muito, o que também o faz em "I'm Not Surprise", acompanhado por um lindo piano. "Can't Believe It's True" traz toques de Jazz, Rory toca Saxofone, é um som com um ritmo muito gostoso. 


"Deuce" abre com "I'm Not Awake Yet", uma linda música. Em "Don't Know Where I'm Going" eles fazem uma incursão pelo Country. "Should've Learnt My Lesson" é outro daqueles blues autênticos. O disco finaliza com duas porradas, "Crest of a Wave" e "Persuasion", nas quais a banda mostra toda sua força e entrosamento.

Partiram então para uma grande turnê pela europa e essas apresentações conquistaram milhares de fans, alguns hoje ilustres, como The Edge e Adam Clayton, que afirmam que foi depois de assistirem um desses shows que decidiram formar uma banda(U2). A gravadora selecionou algumas músicas e aproveitou para soltar logo um disco ao vivo, chamado "Live Europe". Esse disco é, ainda hoje, considerado um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos.


Mais uma mudança na banda, entram Rod de'Ath na bateria e Lou Martin no piano para gravarem "Blueprint", lançado no início de 1973. Apesar da mudança, nada veio a prejudicar a banda, na verdade, quase não se percebe diferença entre esses discos, apenas o piano está mais presente, algo que só veio a enriquecer o som. O álbum fecha com "If I Had a Reason", uma linda balada, uma das músicas mais bonitas de toda carreira de Rory.


Ainda em 1973, no mês de agosto, lançam outro discaço, "Tattoo". "Tattoo'd Lady" começa rasgando o verbo, Rory cantando muito e esbanjando estilo, sempre muito bem acompanhado pelos seus escudeiros. "20/20 Vision" é uma música acústica com uma pegada bem jazzistica. "Sleep on a Clothes Line" tem as características marcantes de Rory, um autêntico blues rock. "A Million Miles Away" é outra daquelas de fazer chorar, uma belíssima balada onde Rory toca como que expondo sua alma, canta com o coração. Da turnê de divulgação desse disco saem as gravações para o próximo álbum ao vivo a ser lançado no ano seguinte, chamado "Irish Tour 74", outro petardo ao vivo que na época saiu como LP simples e em 2014, comemorando 40 anos, foi relançado numa edição de luxo com três Lps e livreto. As músicas foram tiradas das apresentações em 28-29/dez/73 em Belfast, 2/jan/74 em Dublin e 3-5/jan/74 em Cork.


"Against the Grain" nasceu em outubro de 1975, levou mais tempo que o normal para ser concebido, talvez pela mudança de gravadora, o que muitas vezes modifica o som da banda, mas isso não aconteceu. O disco é outro álbum de blues com algumas músicas flertando com o hard rock em "Let Me In", com o boogie em "Brought and Sold", mas basicamente permanece com a mesma sonoridade dos anteriores. Mais uma vez Rory nos faz sofrer com "Ain't Too Good", mas é aquele sofrimento bom, produzido pela sua velha e cortante Fender Stratocaster.


Exatamente um ano depois veio "Calling Card", oitavo disco da carreira solo de Rory e primeiro no qual ele entregou a produção a outra pessoa. O escolhido foi o baixista Roger Glover, do Deep Purple, uma das maiores bandas dos anos '70. Essa opção demonstrava que Rory estava mesmo flertando com o hard rock. As semelhanças na sonoridade desse disco com os discos do Deep Purple são enormes, "Do You Read Me", "Moonchild" e "Secret Agent" são temas que lembram demais a banda de Roger Glover. Em "Jacknife Beat" o blues volta com peso. "I'll Admit You're Gone" e "Edged in Blue" são músicas mais leves onde Rory desfila seus solos sentimentais com magnificência.


Algo estava realmente mudando na carreira de Rory. Depois de "Calling Card" ele novamente fez mudanças na banda, dessa vez trocou o homem das baquetas. Entrou Ted McKenna. Passou dois anos para lançar o próximo álbum, "Photo-Finish", que veio carregado de riffs, sem teclados, pesado como o anterior. Gosto dessa fase, mas é preciso apreciá-la sob essa nova perspectiva, de uma banda com fortes raízes no blues que respirava as mudanças no tempo e adaptava-se a ele. "Shadow Play" é um exemplo, muito boa, apenas uma amostra dessa energia. "Cruise on Out" é outra pedrada inspirada em Elvis.


Hoje, dia 30 de agosto, dia do meu aniversário, comemoro ouvindo esses discos, parte da discografia de um dos meus músicos preferidos. Além desses, Rory ainda lançou cinco discos até falecer em 1995 depois de uma cirurgia para transplante de fígado. 


Como presente para mim mesmo, comprei há poucos dias o relançamento em vinil duplo do álbum ao vivo do Taste, um disco fantástico que esperei muito tempo para conseguir. É um prazer imenso ouvir tudo que esse cara fez, desde suas lindas baladas aos seus potentes e cortantes solos de guitarra nas suas músicas mais pesadas. Adoro Rory cada vez mais. Um cara simples que veio da pequena cidade de Cork, na Irlanda.

Tenho mais um disco dele já comprado, o "Jinx", apenas esperando chegar, e vou continuar buscando os demais até conseguir toda sua discografia. Sinto por aqueles que não o conhecem e deixam de apreciar um músico tão excepcional, um guitarrista que figura tranquilamente entre os maiores de todos os tempos.






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