Fiz recentemente uma forte crítica à WSL(mais uma na verdade - porque já fiz várias) sobre a final de Bells. Sou surfista há mais de 30 anos. Quando comecei, a organização do surf mundial era responsabilidade da IPS(International Professional Surfers), que durou de '76 a '82. Logo passou para as mãos da ASP(Association of Surfing Professional), que entre muitos erros e acertos levou o surf para o patamar atual. Esse ano o circuito mundial é comandado pela "World Surf League". No fundo, mudou quase nada, em todos os sentidos.
Mas meu propósito aqui é dar mais uma "alfinetada" no dedo do pé dessa organização(só pra ver se ela reage) e para tecer-lhes um elogio. Estava lembrando do último Pipe Masters, etapa decisiva do circuito do ano passado. Havia um movimento entre os havaianos revoltados por não terem a oportunidade de participar do evento, pois é preciso ser ranqueado para tal e eles, os verdadeiros locais do pico, ficam sempre de fora, como meros espectadores. A WSL então, evitando um conflito, criou uma triagem só para eles, com 32 locais de onde só dois seriam encaixados no evento principal. Foi até uma boa alternativa, mas aí cometeram um crime. O Pipe Masters, patrocinado pela Billabong, é sempre em homenagem ao Andy Irons, havaiano tri-campeão mundial, maior rival de Kelly Slater até hoje, que também era patrocinado pela mesma empresa. Então, na escolha dos 32 locais, "esqueceram" do Bruce Irons, irmão do Andy, excelente surfista que dá show de surf quando o mar tá grande e inclusive já fez parte da elite da ASP e é um dos melhores surfistas do Hawaii. Isso foi inconcebível, imperdoável! Mas ninguém da WSL se manifestou a respeito do critério da escolha. Isso é obscuro, para não usar outro termo.
O campeonato aconteceu de forma tranquila, foram muitas as emoções, afinal o título mundial estava sendo disputado por três surfistas, um brasileiro, um australiano e um americano. Mas um cara que ninguém esperava começou a "bagunçar" a festa, a fazer história. Esse cara chama-se Alejo Muniz. Como ele não tinha tido um bom ano no circuito, precisava chegar às finais para manter-se na elite em 2015. É lógico que ele estava ali para o tudo ou nada, mas Deus ou o diabo resolveram lhe testar e complicar sua vida. Passadas as primeiras fases, Alejo iria encarar Kelly Slater, um dos pretendentes ao título mundial que para ser campeão precisava da vitória. Alejo o ignorou e o despachou. eliminando assim um dos candidatos. Com isso, sobraram o Gabriel Medina e o Mick Fanning na disputa pelo grande troféu. Aconteceu que na fase seguinte, Deus ou o diabo novamente forçaram a barra e colocaram o Alejo contra o Mick Fanning. Coitado do Alejo, pensou o mundo. Mas erraram, coitado do Mick Fanning, pensou o Alejo. O brasileiro pegou dois tubos impressionantes e Mick disse adeus a sua chance, incrédulo.
A praia foi à loucura, o mundo do surf foi à loucura, uma nova história estava sendo escrita. Gabriel Medina consagrava-se Campeão Mundial de Surf Profissional, título inédito para o Brasil.
Bom, mas contei essa historinha para concluir fazendo um elogio a nossa "querida" WSL. Na próxima semana começa a janela de espera para a terceira etapa do ano que acontece em Margaret River, também na Australia - país favorecido, único com três etapas. Margaret tem uma onda poderosa, onde geralmente se destacam aqueles que possuem um estilo de surf mais forte. Então, essa semana, a WSL convidou oficialmente o Alejo Muniz para a etapa, o "gladiador matador de candidatos a título mundial" que está fora da elite esse ano por não ter conseguido os pontos suficientes no ano passado terá uma grande oportunidade. Ele já competiu em anos anteriores naquele lugar e fez ótimas apresentações, seu surf se encaixa muito bem naquelas ondas. Acho que os caras quiseram redimir-se de alguns dos seus pecados...
A comunidade do surf brasileiro comemorou, Alejo deve estar "no céu". Hoje ele ocupa a 2ª posição no ranking classificatório e um bom resultado nessa etapa seria um passo gigantesco para seu retorno à elite em 2016. Parabéns a WSL por acertar uma e parabéns ao Alejo, pois seu lugar é na elite, de onde não merecia ter saído, na arena dos leões.
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