A música inspira o surf.

Sempre estiveram presentes na minha vida. Chegaram juntos e tomaram conta dos meus pensamentos, fazendo com que, a eles, tudo esteja relacionado.

O surf é o meu estilo de vida. Ele dita o meu ritmo. Um amor que perdura por quarenta anos e está cada vez mais sólido.

A música é essencial. Torna momentos marcantes e inesquecíveis pelo simples fato de estar presente.

Nessa trajetória, já percorremos milhares de quilômetros em busca das melhores ondas, sempre embalados pelo bom e velho Rock 'n Roll.

quinta-feira, abril 23, 2015

Drug Aware Margaret River Pro


Margaret é mesmo uma "garota" temperamental. Nem todos os anos ela se faz presente no circuito, nem sempre se apresenta de forma adequada, mas este ano ela surpreendeu a todos.
Localizada numa das regiões mais bonitas do oeste da Austrália, região privilegiada com ondulações grandes e constantes devido a sua posição geográfica. Cidade tranquila, onde a população é muito ligada ao surf e o governo, reconhecendo essa oportunidade, apóia de todas as formas qualquer evento ligado ao esporte, inclusive patrocinando esse que é o maior campeonato do ano na região utilizando estratégias de marketing visando alertar os jovens do perigo das drogas.

As previsões indicavam uma semana inteira com ondulações gigantes e perfeitas para a região. A organização montou o palanque principal em frente ao Main Break e um segundo em frente ao pico alternativo conhecido como The Box, uma onda muito perigosa e pouco surfada, tanto pelo perigo oferecido a quem se arrisca, como pela pouca constância que ela funciona.

Além dos 32 ranqueados, entraram no evento o campeão das triagens, o local Jay Davies e o brasileiro convidado Alejo Muniz. Como previsto, no primeiro dia as baterias já foram para a água no pico alternativo de The Box, para alegria de uns e desespero da maioria. Declarações de surfistas super experientes em ondas grandes e perigosas definiam a complexidade e o perigo que era surfar naquelas condições. John John e Michel Bourez afirmaram que surfaram com medo e foram, junto com o local Jay Davies, Mick Fanning e Kelly Slater os destaques do dia. Ficou claro que o conhecimento e experiencia naquela onda foram o fator determinante para suas performances. Dos oito brasileiros, somente o Miguel Pupo venceu sua bateria passando direto para o terceiro round e os outros sete ficaram para o segundo round, o round de repescagem.


No segundo dia as condições se mantiveram e a organização manteve as disputas em The Box. Poucos surfistas estavam realmente conseguindo surfar naquelas condições, inclusive algumas vacas sinistras foram vistas colocando em risco a vida de alguns. Adriano de Souza deu show, escolhendo as maiores da série, conseguiu vencer sua bateria e Italo Ferreira e Jadson André também conseguiram se recuperar e voltar para o terceiro round. O local Jay Davies surfou muito e despachou Gabriel Medina. Kai Otton e Owen Write foram os outros dois destaques do segundo round.

No terceiro dia, terceiro round, as condições ficaram ainda mais críticas. Tubos imensos e vacas cabulosas alternavam-se em todas as baterias. Kelly Slater foi o grande destaque do dia. O cara conseguiu duas notas excepcionais, um 9,5 e um 10. Jay Davies surpreendeu novamente eliminando o Mick Fanning, numa bateria de alto nível. Nesse momento, o garoto local virou herói, Já havia eliminado o atual campeão do mundo e acabava de eliminar o tricampeão mundial e herói nacional e atual líder do ranking. Dentre os brasileiros somente o Adriano conseguiu avançar, mesmo somente com uma onda boa, um 7,83, porque seu oponente não conseguiu nenhuma onda decente.

Quarto dia, quarto round. Nesse round ninguém é eliminado. São quatro baterias com três surfistas onde o primeiro vai direto para as quartas de final e os dois perdedores competem em mais um round de repescagem. É um round muito importante. O mar continuou subindo e a comissão técnica transferiu as baterias para o pico principal(Main Break). Ondas de 12 pés com muito volume massacravam os surfistas e suas pranchas. Nunca vi tantas pranchas quebradas num evento. Taj Burrow e Owen Write conseguiram quebrar cada um três pranchas nas suas baterias. Os quatro vencedores deram show e mostraram muito conhecimento e determinação para vencerem. Mais uma vez, John Florence, Nat Young - implacável de back side, Taj Burrow e Kelly Slater surfaram em outro nível e já encabeçavam as quartas de final.

Devido as condições ideais, seguiu-se o quinto round, o round que é a chance de recuperação dos perdedores do round anterior. Na primeira bateria, o local Jay Davies mostrou muito conhecimento, optou pelos tubos e despachou Jeremy Flores. Na segunda, Michel Bourez mostrou muita vontade e surfou com muita pressão para despachar Sebastian Zietz, que também vinha com boas performances. Julian Wilson e Adriano de Souza, que estavam nas próximas baterias, precisavam avançar para tomarem a liderança do ranking. Julian enfrentou Owen Write. Write foi um dos destaques em todas as suas baterias. Fez o primeiro 10 do evento com um tubo gigante e muito profundo, surfou sempre no crítico e começou muito bem essa bateria com três manobras fortes marcando um 9,43, mas ficou por aí. O Julian foi mais técnico, escolheu melhor as ondas e fez duas notas excelentes, 9,73 e 9,33. Agora era a vez do Mineiro. Linhas lindas de 10 a 12 pés constantes no outside. Adriano abriu com uma bomba e parecia no drop que tentaria um tubo, mas a onda espumou e ele optou por atacar com três manobras na face, com segurança e fluidez, rendendo um 6,5. A bateria seguiu de forma tensa onde ambos não conseguiam pegar boas ondas, quando no final o Adriano conseguiu encontrar a melhor onda da bateria e marcar um 8,33 para sacramentar sua vitória.


Imediatamente, aproveitando as ótimas condições, começaram as quartas de final com John Florence e Jay Davies. John John deu mais um show finalizando assim a surpreendente participação do local hero Jay Davies. Na sequencia Nat Young venceu o poderoso Michel Bourez. Muita expectativa para a bateria seguinte porque poderia determinar a liderança do circuito. Julian Wilson surfou bem, mas aquém do que vinha surfando até então e Taj Burrow arrebentou, foi muito crítico nas suas primeiras manobras e conseguiu duas ondas excelentes vencendo o confronto. Assim, com esse resultado, Adriano de Souza passa a ser o novo líder do circuito. Na bateria seguinte ele encara o monstro Kelly Slater. Eu tenho a impressão que todo o poder psicológico que Kelly impõe sobre seus adversários volta-se contra ele quando enfrenta o Adriano. Nos últimos nove confrontos o placar está em 8 x 1 para o Adriano. Mineiro começou bem com um 6,83 e emendou com uma onda excelente, um 8,90. Kelly começou devagar e logo na terceira onda, uma bomba, tomou uma vaca e estourou sua prancha. Trocou de prancha e nada adiantou. Pegou mais três ondas ruins e ficou numa combinação de 15,74. Faltando quatro minutos, uma série monstruosa varreu os dois. Kelly conseguiu voltar ao outside para sua última onda, que foi sua melhor, um 7,13, mas já era tarde demais, o "guerreiro" matou o "monstro".

Definidas as duas semi-finais: John Florence x Nat Young e Taj Burrow x Adriano de Souza, foi preciso esperar alguns dias para que estas baterias fossem decididas pois um vento muito forte insistiu em prejudicar as condições até que no décimo dia do evento elas voltassem para a água. John John surfou no limite, foi arrojado e criativo, escolheu bem as ondas e arriscou em todas as manobras, conseguindo duas ondas excelentes. Nat Young surfou bem, mas lhe faltou regularidade, apesar de ter feito uma onda incrível. Na segunda bateria, Taj abriu numa esquerda com a melhor nota da bateria. Adriano respondeu à altura e assim foi durante toda a bateria. A cada onda surfada, a liderança era trocada, mas no final, Adriano conseguiu uma onda sólida com três manobras bem executadas e virou a seu favor deixando Taj com a prioridade por cinco minutos, que para nossa sorte, a série não veio e Taj não conseguiu reverter a situação.


Estavam então na grande final do Drug Aware Margaret River Pro o melhor surfista de todo o campeonato até o momento, John John Florence, e o guerreiro sempre raçudo Adriano de Souza que, a meu ver, embora esteja passando suas baterias, ainda não surfou todo seu potencial. Começa a bateria com ondas lindas de aproximadamente 2,5 m. e com terral. Adriano abre a bateria com uma onda excelente, da série, com duas grandes manobras de borda e uma finalização crítica, recebendo 8,93! John John veio na sequencia com uma boa onda, com duas boas manobras mas não finalizou e ficou com 7,00. Pegou sua segunda onda e abriu com manobras fortíssimas, fazendo uma nota quase excelente, mesmo caindo na finalização(7,87). Adriano, com a prioridade, escolheu bem sua segunda onda e fez mais duas grandes manobras e finalizou numa junção muito forte(8,60). John passa a precisar de 9,66 e fez sua melhor onda. Destruiu uma direita com três manobras no crítico, arriscando tudo e mereceu uma nota excelente(9,00). Nesse momento, John John muito mais ativo, já tinha seis ondas e Adriano, cirúrgico, escolheu e surfou apenas duas ondas, mantendo a prioridade. Oito minutos de expectativas, de ansiedade, mas Adriano soube administrar sua vantagem e com muita emoção conseguiu garantir mais uma grande vitória para ele e para o Brasil, sua quinta no circuito mundial, conseguindo, com isso, distanciar-se no ranking para chegar ao Rio de Janeiro como líder absoluto.


Uma final épica em um campeonato épico. Difícil uma etapa apresentar tantos dias clássicos com ondas que variaram de dois a quatro metros, sempre perfeitas. Altas performances, show de surf, tanto masculino como feminino. Parabéns Adriano pela força, garra, atitude, foco e alto nível de surf.


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