Há dias nos quais quando nos dispomos a ouvir um som ficamos meio que "perdidos" entre as centenas de cds e lps da nossa coleção, isso acontece com todo maluco por música e colecionador de discos. Porém, há outros que como por "obra" do além "piscam" para nós logo que olhamos para as prateleiras a fim de escolher aquele que começará tocando o dia.
Hoje foi assim, acordei cedo e assim que pensei em escolher um cd para tocar, o "Moving Pictures" saltou aos meus olhos. Peguei a caixinha na mão como quem pega um bichinho de estimação e fiquei a analisá-la antes mesmo de por o cd no player. Li um pouco do livreto que a acompanha e peguei-me lembrando de como e quando escutei a banda pela primeira vez.
É interessante como alguns fatos da nossa infância/adolescência permanecem vivos na nossa memória. Eu tinha acabado de mudar de colégio, estava começando o 2º ano de ensino médio, era 1984. Nessa época eu já curtia muito som, mas por incrível que pareça, não conhecia o Rush. Logo nos primeiros dias de aula, ainda desambientado com a turma, um colega conhecido por Jó aproximou-se e trocando idéias descobrimos que partilhávamos a paixão pelo Rock 'n Roll. Foi quando ele ofereceu-se a gravar uma K7 pra mim com uns sons que ele curtia. Foi nessa fita que estava "Finding My Way", música do primeiro album do Rush, de 1974. Lembro-me que tinha também Rainbow, Sabbath, Dio, Iron Maiden, mas esses eu já curtia, não eram novidade, mas aquela música acertou-me em cheio. Tinha a fúria de uma banda de Metal, mas tinha algo diferente, lembrava o Zeppelin, todos os instrumentos se sobressaiam, e o vocal era muito instigador. Precisava descobrir mais sobre a banda.
Foi a partir daí que comecei a comprar todos os lps que encontrava. Busquei logo pelo primeiro, o "Rush", com o qual fiquei maravilhado. Esse disco me cativou de tal forma que nunca mais desde então fiquei longe dele, seja com o Lp, o Cd, uma K7 ou outra gravação qualquer. Em todas as seleções que eu fazia tinha pelo menos alguma música daquele disco. Logo depois vieram os outros, "Fly By Night", "Caress of Steel" e "2112". Aqui preciso tecer um pequeno comentário. Esse último disco citado foi outro que me conquistou e ainda hoje, assim como o primeiro, estão entre os meus discos preferidos e mais escutados.
Voltando ao "disco de hoje", este marca uma fase bem distante daqueles anteriores, tanto temporal quanto musical. Costumamos brincar afirmando se tratar de uma outra banda. Claro que isso é uma hipérbole, pois no Rush nunca houve substituições, o que sempre houve foi experimentos e desprendimentos, liberdade total para músicos excepcionais, os quais necessitam exteriorizar suas capacidades.
Lançado poucos antes da minha "iniciação" à banda, em 1981, depois de três albuns bons, mas inferiores aos destacados, época na qual o Heavy Metal estourava na Europa e se expandia para a América, Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart pareciam ignorar o movimento e chegavam já consagrados com um disco atemporal, perfeito numa classificação simplista.
Numa das primeiras entrevistas no radio para divulgação do disco que já estourava no Top 10 do Canadá, um DJ após ressaltar os sucessos dos trabalhos anteriores, direciona a palavra ao Geddy Lee e fala:
"Let's go out with a hit...", ao que Geddy meio que surpreso questiona: "A hit?", e logo responde honestamente: "We don't have any hits". Estava assim de forma sutil esclarecida a proposta desse novo album. Talvez não fosse para ser tocado nas radios, talvez não fosse para fazer sucesso, não era comercial, no entanto, contrariando os incrédulos, ao longo do tempo este disco se firmou a tal ponto que é considerado por muitos como o melhor trabalho do grupo até os dias de hoje.
O trio estava afinadíssimo, as composições atingiram o equilíbrio entre todos os estilos pelos quais a banda flertava, naquele momento o Rush era um gigante com capacidade para conquistar o mundo com sua música. Tinham segurança suficiente para se impor em composições complexas, preenchidas pela técnica e virtuose dos seus membros sem perderem a energia e o feeling com que chegaram até ali.
Geddy Lee nunca foi um grande vocalista, mas era(é) um exímio baixista e já mostrava domínio e excentricidade nos teclados. Alex Lifeson sempre impressionou como guitarrista, seguro nas passagens de ritmo e incrível nos solos, muitas vezes extensos e altamente técnicos, e o que dizer do Neil Peart? O cara é uma unanimidade como um dos melhores baterista do mundo. O que esses três caras alcançaram com este disco é algo quase inatingível para 99% das bandas, a perfeição.
Do longinquo ano de 1974, quando se lançaram na fria cidade de Toronto como uma banda de Hard Rock, aos dias atuais, mesmo depois de passarem por duas crises que forçaram a banda a interromper as atividades, o Rush ainda é reconhecido e amado por milhões ao redor desta terra. De toda sua extensa discografia, tenho apenas alguns títulos, gosto de todos, amo alguns, e esses me reconhecem logo quando me aproximo, demonstrando sua reciprocidade quando piscam pra mim.
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