A música inspira o surf.

Sempre estiveram presentes na minha vida. Chegaram juntos e tomaram conta dos meus pensamentos, fazendo com que, a eles, tudo esteja relacionado.

O surf é o meu estilo de vida. Ele dita o meu ritmo. Um amor que perdura por quarenta anos e está cada vez mais sólido.

A música é essencial. Torna momentos marcantes e inesquecíveis pelo simples fato de estar presente.

Nessa trajetória, já percorremos milhares de quilômetros em busca das melhores ondas, sempre embalados pelo bom e velho Rock 'n Roll.

segunda-feira, dezembro 05, 2016

Deus


“Para de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti. Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer. Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho…Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho? Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz…Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia. Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste? Para de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti." 
Baruch Spinoza  

sexta-feira, novembro 25, 2016

The Paul Butterfield Blues Band


Hoje quero compartilhar um tesouro que está completando 50 anos. Não foi relançado, não está disponível no mercado, não é um disco popular e nunca teve sucesso comercial, porém é fenomenal.


Conseguir um exemplar original de época é tarefa árdua, é preciso muito empenho, contatos no exterior com disposição e paciência para mergulhar no mercado negro até encontrar alguém que possua uma cópia em bom estado e esteja disposto a vender, e ainda tenha certeza que precisará dispor de uma boa quantia em dólares para adquirí-la.


Bom, eu fiz tudo isso e consegui. O meu chegou recentemente, com 50 anos de idade e novinho como se estivesse em um baú, lugar onde se guarda e esconde jóias raras como essa. É algo quase inacreditável, uma sensação indescritível, imaginar como pode um disco ficar tanto tempo, meio século, e ainda estar em perfeitas condições, capa e mídia, qualidades que só um bom disco de vinil é capaz de perpetuar.

East-West é o segundo disco da carreira de Paul Butterfield, um gaitista de Chicago. Seu talento lhe proporcionou aproximar-se de grandes músicos da época. Lembrando que era meados dos anos 60, quando o blues, o soul e o jazz dominavam a cena musical ao tempo em que passavam por uma tremenda transformação, eletrificando-se, tanto na América, como na Europa.

Um desses músicos foi Elvin Bishop. Eles se conheceram por acaso, quando Paul praticava na sua varanda e Bishop, de passagem pela rua, ouviu aquele som e aproximou-se, surgindo dali uma grande amizade e parceria. Juntos foram aceitos no circuito de clubes onde só tocavam os grandes standarts, Otis Rush, Muddy Waters e Howlin' Wolf, com quem os dois passaram tocar regularmente, até quando decidiram formar a própria banda.


Jerome Arnold(baixo) já tocava com eles. Convidaram então Mark Laftalin(órgão e piano) e Billy Davenport(bateria), mas sentiram a necessidade de contratar outro guitarrista. Essa foi uma grande sacada e o escolhido não poderia ser melhor, Mike Bloomfield.

Com essa formação fantástica, em 1966, lançaram este petardo de blues com nove faixas. Aqui não se ouve, como era de costume na época, garotos brancos homenageando os mestres do blues, mas sim seis jovens - quatro brancos e dois negros - com muito feeling absorvido pela região onde nasceram e cresceram, fazendo sua própria música, conquistando um espaço dominado pelos negros.
Esse time conseguiu, sobretudo neste disco, atingir um nível de excelência tão alto que chega a ser estupendo. Já escutei alguns outros trabalhos deles, todos muito bons, mas esse é especial, o nível aqui é excepcional. Você põe o disco na vitrola e logo se espanta com a musicalidade, com o conjunto, o ritmo contagiante, o groove jazzistico, o baixo elegante e vigoroso, os solos sensacionais dos dois guitarristas que, mesmo em início de carreira, estão tão à vontade e soltos como feras predadoras no seu habitat.

Desde o dia que peguei este álbum que ele tomou conta da minha pick up e não tenho escutado outra coisa, estou completamente envolvido com ele, e não é pra menos, garanto. Sugiro para quem curte blues com pitadas de jazz recheado de guitarras e gaitas que procurem ouvir esse disco, todo ele, faixa a faixa, para sentir uma música que, embora esteja completando 50 anos, é tão atual e apaixonante, tão distante da mesmice da maioria que a industria se esforça para massificar. É um álbum único e indispensável.

Com essa fantástica formação, em 1966, lançaram este petardo de blues com nove faixas. Aqui não se ouve, como era de costume na época, garotos brancos homenageando os mestres do blues, mas sim seis jovens - quatro brancos e dois negros - com muito feeling absorvido pela região onde nasceram e cresceram, fazendo sua própria música, conquistando um espaço dominado pelos negros.

"Walkin Blues" abre o disco com uma faixa carregada de peso, bem marcada e com solos de gaita e guitarra. "Get out of my life, womam" é muito sensual, cheia de feeling, enriquecida pelo piano e ritmo jazzistico. "I got a mind to give up living" é um dos pontos altos do disco, é um blues que retoma as raízes, vocais rasgados e profundos solos de guitarra. "All these blues" não vai deixar você parado, tem muito groove. "Two trains running" introduz a força do rock na essência da banda, muito da influência de Bloonfield. "Never say no" é puro lamento, uma carta de amor como o blues é por natureza. O disco encerra com a faixa título, outro ponto alto, longa, quase como uma jam, com treze minutos nos quais todos participam ativamente, é outra faixa jazzistica com muitos solos de guitarra e gaita onde os músicos literalmente se apresentam individualmente e como banda demonstrando muita afinidade, uma viagem sonora com vários climas que se interligam e chegam ao clímax desse maravilhoso álbum que deveria estar em qualquer coleção de quem é fã da extraordinária música dos anos '60.

sábado, novembro 05, 2016

Cidadãos de Papel


"Se um país é uma árvore, as crianças são seus frutos".

Cidadania

Quem é cidadão? Todos são, responderia o ignorante. Não sejamos ignorantes. Para ser cidadão não basta estar vivo e fazer parte de uma sociedade, mas sim viver em uma cidadania, onde todos têm todos os seus direitos garantidos, conhece-os e têm liberdade para exercê-los. Um país que pensa e respeita a cidadania não ignora nem seus filhos, nem seus pais, os polos mais fracos, não os exclui, seja porque ainda não contribuem economicamente ou porque deixaram de contribuir, sendo assim vistos apenas como "despesas" e não "investimentos".
"Um menino de rua é mais do que um ser descalço, magro, ameaçador e mal vestido. É a prova da carência de cidadania de todo um pais, onde uma imensa quantidade de garantias não saiu do papel da Constituição."
Onde estão os Direitos Fundamentais senão na Constituição. Não deveriam ser respeitados acima de tudo? E os Direitos Humanos expressos na Carta da ONU? Apenas faz-se de conta que se cumprem. Ainda não saíram do papel.

Estado Democrático de Direito

A democracia se propõe a ser o regime mais civilizado que existe, porque todos – do presidente ao menino de rua – deveriam ter seus direitos assegurados. Direito à vida, à liberdade, direitos sociais e políticos, direito à educação, ao lazer e ao bem estar, à segurança e a um meio ambiente equilibrado e saudável. O Estado nos deve tudo isso, mas nem sempre paga, não se comporta como deveria, na maioria das vezes é ausente quando deveria ser presente; e é excessivamente presente, ou abusivamente autoritário, quando deveria garantir a liberdade e os direitos do cidadão.


Violência

Não deveríamos admitir a violência, não é algo natural. No entanto, o que vemos é a instalação de toda e qualquer forma de violência no nosso dia-a-dia. Vivemos com medo, quase exilados da nossa condição de liberdade, de ser, de ter, de agir, de sentir. As nossas assombrações que outrora eram lendas, hoje são reais, temos medo de pessoas, de menores infratores, de mocinhos e de bandidos. A polícia, representante da força do Estado, tantas vezes é truculenta e despreparada, excede e abusa do poder que lhe foi conferido por Lei para salvaguardar o cidadão e garantir o usufruto da cidadania. Temos a polícia que mais mata no mundo, mata menor, criminoso, mata pessoas de bem, todos são vítimas, e muito disso se deve à impunidade, ausência de agir do Estado, que tem o dever de garantir a paz social.

Economia

A economia de um país costuma ser medida pelo PIB(Produto Interno Bruto), ou seja, todas as riquezas produzidas em um período de um ano. É um índice que dá uma boa idéia e serve de comparação com anos anteriores para que seja avaliado o crescimento ou regresso da economia, no entanto, ele é relativo. Para uma melhor análise, é preciso dividí-lo pela população, assim teremos um PIB per capta, que seria mais próximo da realidade, mesmo que ainda seja irreal, pois o bolo não é dividivo de forma igualitária. Quanto mais democrático e desenvolvido for um país, mais igualitária será essa divisão. Em 2015, o PIB per capta no Brasil foi de R$ 28.876,00, algo em torno de R$ 2.406,00 por mês, o que sabemos ser um valor totalmente fora da realidade, haja vista existirem no país mais de 30 milhões de habitantes vivendo na pobreza, com menos de R$ 150,00 por mês, algo bem distante da média do PIB, o que comprova a imensa desigualdade social.

Recessão + Inflação

A recessão não é algo novo, mas continua atual. É um dos maiores problemas que enfrentamos, embora nem sempre esteja presente. Ela se apresenta quando um Estado deixa de crescer, a produção diminui e o maior reflexo disso é o aumento do desemprego. Com menos dinheiro circulando, menos impostos são arrecadados, o governo não paga as contas, fica em déficit, e aí uma das saídas é emitir moedas. Isso automaticamente gera um reflexo negativo, que é a desvalorização da moeda, gerando inflação.


Educação

A falta da educação leva à pobreza. É um círculo vicioso. Sem a devida educação, a criança torna-se um adulto incapaz de galgar a um bom emprego, a um bom salário que possa lhe garantir e a sua família uma boa casa, saúde, alimentação adequada, segurança e lazer.
O nível de instrução da pessoa está diretamente ligado a sua rentabilidade e a sua produtividade. Quanto maior a produtividade, menor o tempo de produção e menor o desperdício, gerando mais rentabilidade.
Infelizmente são os mais pobres que menos estudam, tanto por falta de estímulos, quanto pela necessidade de produzir alguma renda imediata para a família que já é carente de recursos.
Um país com baixo índice educacional é uma ponte para as desigualdades sociais. Com a educação vem o conhecimento, o acesso aos direitos e obrigações, à cidadania. A educação é um dos pilares que sustentam a verdadeira democracia.
Quanto mais conhecimento, mais informação, mais politização, mais fiscalização, mais exigências, mais isonomia.
O analfabetismo priva o cidadão do exercício da cidadania, nega a ele direitos que lhe foram conferidos, mesmo estando garantidos nas constituições, valorados como bem maior, mas que sem capacidade e possibilidade de conhecê-los, jamais serão reclamados.
Esse desequilíbrio afeta de alguma forma toda a população, ninguém estará imune. Os mais pobres sofrerão mais e mais diretamente, mas os mais ricos sofrerão de outra forma, sofrerão as consequências da pobreza e das desigualdades pela violência que estas geram, ou seja, a paz social, que por todos é almejada, jamais será alcançada. A democracia será utopia, a cidadania, prevista como fundamento da República e do Estado Democrático de Direito, apenas pela minoria será exercida, ambas não sairão do papel.

quarta-feira, novembro 02, 2016

Social Distortion



Ninguém, nenhuma banda nesse mundinho conseguiu a receita perfeita misturando Punk, Blues, Country e Rockabilly além do Social Distortion. O sabor dessa mistura é algo único, inusitado e altamente viciante. 

São trinta e três anos de carreira e apenas sete discos de estudio e um ao vivo. Muito pouco? Não, porque quem se importa com quantidade? O que queremos é qualidade, ou não é? Sim, e o Social Distortion arrebenta em todos os albuns. 


Meu primeiro contato com a banda foi quando, lá pelos idos de 1990(aproximadamente), chegou em minhas mãos uma cópia do filme de surf da Billabong "Filthy Habits", que trouxe a música "Prison Bound"

Naquela época ainda só tínhamos discos de vinil e K7, mas era praticamente impossível conseguir um disco importado de uma banda que quase ninguém conhecia, então o que fazíamos era copiar a trilha do filme numa fita K7 e compartilhar com os amigos, isso era o máximo!!

Com a chegada dos cds e da internet ficou muito mais fácil conseguir qualquer disco, mas por outro lado, os lps sumiram do mercado.

Só nos últimos dois ou três anos é que muita coisa voltou a ser relançada, e mesmo assim só no exterior, mas isso já era o bastante para, mesmo pagando preços absurdos, conseguirmos aqueles albuns que jamais conseguimos em vinte ou trinta anos.

Este ano, a gravadora "Music on Vinyl" começou a relançar os discos antigos do Social Distortion, e logo que soube disso comecei a buscar uma loja que os vendesse. Não foi fácil, pois como disse, trata-se de uma banda do underground, mas recentemente encontrei um lojista em São Paulo que me conseguiu dois dos quatro discos relançados e me prometeu para breve os outros dois.


"Prison Bound", numa edição comemorativa de 25 anos, e "White Light, White Heat, White Trash", comemorando 20 anos. Fiquei maluco! Embora já tenha todos os discos da banda em cd, nada se compara a um LP novinho prensado em 180 gramas com alta qualidade.


Essa semana recebi meus exemplares e agora vou ficar na expectativa dos outros dois que já encomendei e em breve estarão chegando. O Social Distortion é uma das minhas bandas favoritas, é daquelas que marcaram meu coração, minha vida, é amor incondicional.

sexta-feira, outubro 28, 2016

JJF - Campeão do Mundo 2016


Depois do título do Gabriel em 2014 e do Adriano em 2015, ambos muito comemorados por nós brasileiros, veio a merecidíssima vitória do John John Florence, um dos surfistas mais espetaculares e talentosos de todos os tempos. Um cara diferente, fora dos padrões, relaxado demais para um competidor, sempre meio alheio às exigências da WSL, características que ao mesmo tempo encantam, pois estão na essência do surfista de alma, mas também fizeram com que ele amargasse diversas derrotas ao longo dos últimos anos.

Todos sabiam, desde o início da sua carreira, há uns dez anos, que ele tinha um potencial extraordinário. Suas performances em ondas grandes sempre surpreenderam, e nos últimos anos sua competitividade foi se polindo e amoldando aos critérios para que ele chegasse ao título máximo.

Fico particularmente feliz por essa conquista, tanto porque é justa e merecida, como porque é bom ver um cara que acompanho desde moleque, que manteve a simplicidade e humildade, ver sua evolução por uma década, finalmente sagrar-se campeão mundial, ser reconhecido e coroado melhor do mundo.


quarta-feira, outubro 19, 2016

Bob Dylan - Um Nobel


Um Nobel de literatura a um músico? Acredito que essa indagação tenha sido feita por diversas pessoas pelo mundo, não à toa, pois embora Bob Dylan não seja "apenas" um músico, é assim que a grande maioria o reconhece. 

Prêmios como este muitas vezes são vistos como tendenciosos, recebem críticas de todo tipo, desde o seu real objetivo, inclusive como já fora questionado por um dos seus ganhadores, o qual recusou-se a recebê-lo, passando pelos indicados e a quem os seleciona, chegando ao escolhido e final merecedor.

Afastando-se dessa problemática, acreditando na nobreza do título, penso que nenhum dos seus ganhadores tenha se preocupado quando da criação de suas obras com este objetivo. O verdadeiro artista, seja escritor, físico, músico, ou qualquer outro iluminado, desenvolveu sua obra pela sua natureza, sua necessidade e vontade, sem preocupar-se com reconhecimento, mas tão somente na sua ideologia e seu resultado.

Para aqueles que pouco sabiam sobre "os outros" Bob Dylan, deve ter sido realmente um choque. Para mim foi uma grata surpresa. Afinal, pelo pouco que sei sobre Prêmio Nobel de Literatura, apenas ilustres escritores, na sua grande maioria europeus, foram agraciados com essa honra, sem falar na "bolada" em dinheiro. É justamente essa a questão, por que a música de Bob Dylan seria merecedora de um Nobel de literatura? A resposta não está na música, mas nas suas letras. Dylan foi, e ainda é, um grande artista, músico, pintor, compositor, poeta. 

Em seu primeiro disco, gravado em 1961 e lançado no ano seguinte, apenas duas músicas eram autorais, porém, durante esse período ele escrevia sem parar até lançar em 1963 o segundo álbum, "The Freewheelin' Bob Dylan", este com todas as músicas autorais, escritas em forma de protesto ao governo e à sociedade da época, embora ele mesmo negasse isso, mas assim eram reconhecidas e interpretadas por todos. Duas delas, inclusive, tornaram-se hinos e levantaram bandeiras por toda a década de sessenta e perduram até os dias atuais, "Blowin' in the Wind" e "A Hard Rains A-Gonna Fall", as quais são muitas vezes interpretadas de forma totalmente fora do contexto.

A forma como ele escrevia fugia do tradicional, era um fruto desconhecido de sabor amargo que subitamente conquistou toda a juventude, foi inovador e polêmico numa sociedade altamente conservadora e tradicional.

A música de Bob Dylan é apenas uma carapaça para suas letras. São suas letras, seus contos, sua poesia que o levaram ao reconhecimento mundial, inclusive por aqueles que mais entendem de literatura. Ler Bob Dylan é mergulhar na história americana contada pela ótica de quem viveu no underground, lutou pelos direitos civis e sociais. Sua obra sempre foi admirada e tardou, mas agora foi reconhecida e elevada a outro patamar, sobrepujando autores notadamente geniais.

Assim é o tempo, assim é a vida, às vezes esperamos anos por algo e inusitadamente aquilo acontece, como diz o próprio autor, "quantas estradas um homem deve percorrer até ser chamado de homem"?

domingo, outubro 16, 2016

The Untold Story of Andy Irons


Todo surfista, do mais velho ao mais jovem, do "Free Surfer" ao competidor, todos reconhecem a hegemonia do Kelly Slater, mas apenas uma pequena parte desses conhece o Andy Irons, uma pena!

Quem viveu os poucos anos da sua impressionante carreira e acompanhou suas performances nunca o esquecerá. Seus três títulos mundias foram emocionantes.

Ele foi o único à altura do Kelly quando o Kelly estava além das alturas. Era uma rivalidade quase mortal que ao mesmo tempo flertava com o mais alto respeito e admiração mutua.

Eram como combustível e motor um para o outro, e vice-versa.

Em breve teremos mais um documentário sobre o Andy, dessa vez parece que sob uma nova perspectiva, a que poucos conhecem, mais íntima, revelando os demônios que viviam dentro desse deus.


quarta-feira, outubro 12, 2016

França 2016


Congratulations Tyler Wright!!

Muito bom e merecido esse título de campeã do mundo para a australiana Tyler Wright. Uma surfista guerreira que já vem há vários anos chegando perto do objetivo máximo, mas sempre parava frente às duas grandes campeãs mundiais, Stephanie Gilmore(6x) e Carissa Moore(3x).


Agora é chegada a sua vez. Com um surf extremamente forte e radical, ela vem fazendo um ano muito regular, onde já venceu quatro eventos. O título veio antecipado com esse segundo lugar na França, antes mesmo da última etapa no Hawaii.

A corrida pelo título masculino continua firme, John Florence e Gabriel Medina estão cada vez mais próximos ao título. Nessa etapa, JJF terminou em terceiro e Gabriel perdeu na final para o mar e para a maior zebra de toda a história do circuito mundial, Keanu Asing, o havaiano que já estava praticamente fora da elite, mas que nesse campeonato veio derrubando um a um até conquistar a primeira vitória em toda sua carreira, merecidamente.


domingo, outubro 09, 2016

Pink Anderson e Floyd Council


Diz uma lenda que Syd Barret tinha um disco de Pink Anderson no início dos anos 60, é bem provável que isso seja verdade, outra, diz que Barret curtia um disco de Blind Boy Fuller que tinha a participação de Pink Anderson e Floyd Council, e estes dois teriam influenciado Syd a ponto de ele quando pensou no nome para sua banda ter feito um trocadilho com seus pré-nomes, chamando-a, a princípio, "The Pink Floyd Sounds", mas logo depois ter simplificado para apenas "Pink Floyd". 

Será que são lendas ou fatos? Syd deixou um belo legado marcado pelo blues e não está mais conosco para confirmar, então vamos considerar como verdade e agradecer a esses dois bluesmans por, mesmo sem saber, terem inspirado um gênio para formar a melhor banda de todos os tempos.




sábado, outubro 08, 2016

Seasick Steve - Keepin' the Horse Between Me and the Ground


Ontem, dia 07 de outubro, recebi no e-mail uma mensagem promocional do lançamento do novo disco do Seasick. Uau!! Para tudo!! Imediatamente abri o link que direcionava para a página oficial dele e lá estava o vinil, duplo, em 180 gram. É claro que tratei logo de garantir o meu.

Feito isso, fui à procura de algum link na internet para ouvir e quem sabe baixar o disco para matar minha curiosidade, pois não consigo esperar um ou dois meses até meu album chegar para ouvir esse velhote e seus blues rocks carregados de venenos tal qual as serpentes dos campos do Tennessee de onde também veio esse barbudinho.

Como bom garimpeiro que sou, sacodi a poeira, afastei a lama e lá estava ele, um link maravilhoso com o album completinho, com boa qualidade, suficiente para saciar meus ouvidos famintos, pelo menos temporariamente.

Que pancada! Vinte músicas. Uau!!(de novo) Deixei rolar e logo senti aquele arrepio causado pela distorção das velhas e arranjadas guitarras de Steve. O cara é muito roots, na mais autêntica e contextual interpretação da palavra. Seu rock é rural, seu blues é legítimo. 

Há ainda algumas versões de velhas canções de artistas pouco conhecidos por essas bandas. Uma linda roupagem ele deu a "Gentle on My Mind", de Glen Campbell; "Everybody's Talkin' at Me", de Harry Nilsson, está quase irreconhecível, embora seja uma música que estourou nos anos 70 em todas as rádios do mundo; em "Signed DC", de Arthur Lee, Seasick invocou o fantasma do autor, seu conterrâneo, e rasgou um blues abusando da sua voz potente e do solo de gaita para dar um clima ainda mais sombrio à canção.

Escrevendo essas linhas depois de em apenas menos de 24 horas já ter escutado o disco umas três vezes mesmo em arquivos digitais, fico aqui na expectativa do prazer de colocar meu vinil na minha vitrola e curtir essas músicas como elas merecem, no velho estilo preservado pelo velho Seasick.




sábado, outubro 01, 2016

Devon Allman - Ride or Die


É obvio que o fato de ser filho de uma lenda abre todas as portas até para um músico mediano, o sobrenome será sempre levado em consideração e seu trabalho pode ser muito mais valorizado em respeito às suas origens do que ao seu real valor. Essa é uma regra geral, mas não se aplica para o sujeito em tela. Apesar do sobrenome respeitadíssimo que por si só já arrebataria milhões de curiosos e poderia ofuscar a preciosidade do ser, este nunca esteve sob a proteção ou foi carregado ou alçou voos pelas asas da família, mas sim pelo seu talento nato e pelos seus diversos trabalhos, tanto com os mais variados músicos e projetos dos quais já participou, como posteriormente pela sua própria banda e mais recentemente pelos seus discos solo.

Devon Allman nasceu em 1972, filho de Gregg Allman, um dos fundadores da magnífica banda The Allman Brothers Band, referência absoluta no Southern Rock. Mas Devon, ainda muito cedo foi viver com a mãe logo após a separação do casal e só veio a conhecer o pai na adolescência, logo, embora tenha começado a tocar ainda bem jovem, não sofreu influências diretas do pai, Segundo ele, suas influências no início foram Beatles e Kiss, e quando conheceu o pai, aí sim, a ligação foi imediata e então seu estilo foi se consolidando, tendenciando ao Classic Rock e ao Blues Rock que eram a tônica da família. Passou então, naturalmente, a curtir Santana, Stones, The Doors e, lógico, a banda da família. Certa vez, quando perguntado se havia um disco que teria sido o divisor de águas, ele citou "Layla", de Derek and The Dominos, onde Eric Clapton e seu tio, Duane Allman, tocam com o coração, com energia e paixão.


Em 1999 ele formou a Devon Allman's Honeytribe, gravou apenas dois discos até 2010, quando a banda se desfez. Logo no ano seguinte deu início a um novo projeto, a Royal Southern Brotherhood. Com eles foram mais quatro discos, inclusive o último lançado em 24 de junho deste ano, ainda em processo de digestão.

Nesse meio tempo ele começou umas sessões com uma baita seleção de músicos para dar início a sua carreira solo e em 2013 soltou seu primogênito, "Turquoise". Saiu em turnê e não demorou para lançar logo outro album, "Ragged and Dirty". Mais algumas turnês para divulgar seu trabalho e algumas participações na banda de seu pai o levaram a uma grande evolução e maturidade no seu som que estão claramente refletidas nesse novo disco que já impressiona pela sua lindíssima capa, instigando-nos a descobrir o que ela oferece no seu interior.

Devon Allman - Ride or Die
Música orgânica da melhor qualidade, Rock sem firulas, bateria muito bem marcada com inúmeras variações de ritmo que enriquecem o som desrotulando-o; guitarras fortes tocadas com bastante estilo, muito swing e paixão que vêm do fundo do seu íntimo seio familiar; solos cortantes, sutis, sem extremismos; baixo notável, contagiante; e Devon, que também toca guitarra e baixo, cantando melhor do que em qualquer outro dos seus trabalhos anteriores, notadamente uma grande evolução que só uma elite de músicos carregados de feeling conseguem externar.

"Ride or Die" é um grande disco, são 48 minutos de prazer, deve figurar entre os melhores do ano no estilo, tem tudo que se espera de um album de Blues Rock. O time de músicos é de arrebentar, mostram grande harmonia e as composições são inspiradíssimas, teclados, saxofone e violinos são primorosamente inseridos e tudo se encaixa. É o tipo do album no qual logo que colocamos a agulha no primeiro sulco sentimos nos arrebatar, e segue sem redeas, a galope, faixa a faixa. 

É preciso um certo esforço para destacar algumas faixas, há desde rockões clássicos como a faixa de abertura, "Say your Prayers", talvez a mais pesada do disco, carregada de Riffs e Wah Wah; "Find Ourselves" que vai fazer você dançar mesmo que esteja engessado; "Lost", uma linda canção com belíssimos violões e Devon afirmando que "true love never die", é a minha preferida; e "Pleasure and Pain", um blues rock para fechar o album com muito estilo, todas contagiantes. Minha sugestão é que faça o que um bom disco de vinil sugere, não escolha músicas aleatoriamente, apenas deixe rolar sem interrupções que seu coração e sua alma agradecerão.




terça-feira, setembro 27, 2016

Jack White


Ícone é aquele que se distingue, que é símbolo de uma época, ídolo. Jack White é um ícone de nossa época. Compositor, cantor, músico, ator, produtor e empresário. Formou sua primeira banda em 1997, um duo com sua esposa à época, Meg White, na qual ela tocava bateria, ou melhor, surpeendia todos com suas performances sobre aquele instrumento, sobretudo com sua postura descompromissada e relaxada, e ele fazia todo o resto. Não era, nem é algo comum uma banda com apenas guitarra e bateria. De logo imagina-se um som vazio, ledo engano quando temos alguém como Jack White por trás.

"Jack White Acoustic Recordings 1998-2016" é uma compilação acústica que acaba de ser lançada pela Third Man Records, gravadora independente do próprio White que traz, de forma muito interessante porque respeita a linha do tempo do artista, uma releitura de toda a carreira desse talentoso musico com cara de vampiro, exímio guitarrista e cantor singular.

"Sugar Never Tasted So Good" foi sua primeira composição, data de 1996, foi lançada em 1997 como single e está no primeiro disco da banda, "The White Stripes", de 1999. Uma mistura de garage rock, blues e punk era o que eles faziam, algo no mínimo inusitado, contagiante e inédito, uma boa dose de oxigênio - ou lisergia - na música da época.

Não por acaso, é essa mesma música que abre essa compilação na qual o autor buscou juntar gravações antológicas, inéditas, ensaios, tanto da sua antiga banda, quanto dos seus trabalhos com outros músicos, seus projetos, suas outras bandas e sua carreira solo.


A banda "The White Stripes" durou até 2010, embora em 2006 Jack também já estivesse envolvido com a banda "The Raconteurs", e a partir de 2009 com a "The Dead Weather", tudo ao mesmo tempo, prova da sua notável capacidade, conciliando ainda seu trabalho solo.

"Apple Blossom", segunda música escolhida para a coletânea está no segundo disco da banda, "De Stijl", de 2000. Foi com ela que ele se apresentou pela primeira vez na TV americana. "I'm Bound To Pack It Up" vem na sequencia, e aqui percebemos uma roupagem Zeppeliana, enriquecida por um violino tocado por um tio de Jack, um ponto alto do disco.

"Hotel Yorba" tem a alma da "The White Stripes", apenas a voz marcante de Jack, batidas no violão e bateria punk são a tônica. "We're Going To Be Friends" eleva o nível, foi um sucesso da banda e aqui está linda, com Jack cantando de forma sublime. Se você estava de olhos fechados apenas sentindo essa música, continue assim, porque a próxima vai ainda mais fundo, "You've Got Her In Your Pocket" é uma bela canção apenas com voz e violão, quando podemos confirmar que às vezes menos significa mais.

Quem assistiu o filme "Cold Mountain" vai lembrar de "Never Far Away", música que está presente na trilha sonora. "White Moon" é tocada ao piano por Jack para Meg em um momento solene lá em 2005, pouco antes da sua separação. "As Ugly As I Seem" vai às raízes do blues do Tennesse, Jack dedilha seu violão e Meg toca a bateria com as mãos, nada mais rústico que isso. 


Quando vi esse disco me veio imediatamente em mente os projetos de Bob Dylan quando este faz seus "bootlegs oficiais" acústicos, e a próxima música reforça essa minha visão. "Honey, We Can't Afford To Look This Cheap" é tocada ao piano, a bateria acústica soa abafada e ouve-se no último minuto uns slides de guitarra que foram tocados por Beck. 

Apenas duas músicas dessa coletânea foram tiradas dos Raconteurs, ambas do segundo disco. "Top Yourself", que aqui aparece no estilo bluegrass, com banjo e violino, e "Carolina Drama", numa versão acústica intimista, com Brendan Benson tocando slide no violão, uns backing vocals maravilhosos de Karen e Kate Elson, violinos solando à vontade e Jack mandando ver na sua guitarra.

A partir daí começa a fase da carreira solo de Jack e a primeira é "On and On and On", uma música muito bonita onde ele canta "...só Deus sabe aonde estou indo...", o que demonstra sua inquietude e incertezas. "Blunderbuss" é a faixa título do seu álbum de 2012, do qual também vieram "Hip(Eponymous) Poor Boy" e "I Guess I Should Go To Sleep".

O disco encerra com três músicas do disco Lazaretto de 2014, com destaque para "Entitlement", onde Jack invoca os músicos de Nashville, onde tudo começou, de onde vieram suas influências, alguns de seus ídolos, a sua formação musical que aliada ao seu talento natural transformaram-no em um artista que hoje é reconhecido pelos mestres e idolatrado pelos fãs.


domingo, setembro 11, 2016

A polêmica WSL


O critério de avaliação do surf competição sempre foi subjetivo, embora essa subjetividade venha sendo diminuída tanto pela evolução e definição de regras claras como pela capacitação dos juízes. No entanto, é um tanto comum vermos julgamentos que contrariam tudo que aprendemos com o tempo. 

Não quero aqui defender esse ou aquele atleta, mas já faz algum tempo que está ficando clara a parcialidade da entidade maior do esporte, aquela que deveria servir de exemplo. É triste quando fica exposta a intenção em favorecer alguns em detrimento de outros, seja por nacionalidade, patrocínio ou imagem. 

Kelly Slater é o maior surfista de todos os tempos, onze vezes campeão do mundo, ninguém questionou ou impediu a sua supremacia. Contudo, os dois últimos títulos mundiais do Brasil parecem que afetaram a credibilidade e dignidade da WSL que está agindo de forma criminosa a fim de impedir um possível terceiro título de um brasileiro. 


Quando o Gabriel venceu o título mundial, também venceu ao Julian naquela final em Pipe, mas não permitiram duas vitórias tão importantes num só momento para quem nunca havia vencido. Recentemente vimos no Tahiti o Gabriel sendo prejudicado contra o JJF, onde merecidamente faria a final com o Kelly, e hoje, de forma escandalosa, impediram a vitória do Gabriel contra o Tanner Gudauskas, que com ela chegaria a liderança do circuito, já que os dois que até então estão na sua frente já perderam. 


Quem ama o surf, acompanha as competições e tem um mínimo de entendimento técnico ficou revoltado com a nota absurda nessa bateria que eliminou o Gabriel. O Tanner já havia conseguido um 8,67 numa onda com apenas três manobras sólidas. Gabriel precisava de um 8,34 para virar, fez a melhor onda da bateria com uma sequencia incrível de manobras com força e fluidez, esmerilhou a onda do início ao fim, mas os juizes não viram o que todo o mundo viu, eles deram 8,8/8,5/8,2/8,2/7,8, que na média resultou um 8,3, muito abaixo do real valor daquela onda e míseros 0,04 centésimos abaixo do que ele precisava. 

É triste e revoltante ver isso acontecer, ver o caminho escuso que a WSL está seguindo. Cada vez mais, o que era dúvida fica claro, a entidade ou quem está por trás dela não deseja ver a troca de guarda, a supremacia brasileira tomando conta de um circuito que sempre foi dominado por australianos e americanos. 

Parece que o momento é de extrema reflexão e de necessária mudança nos critérios de julgamento, pois subjetividade é uma característica saudável, mas não pode se transformar em poder tirano.


terça-feira, agosto 30, 2016

Rory Gallagher and Taste


Irlanda, agosto de 1966. Rory Gallagher(guitarra), Eric Kitteringhan(baixo) e Nornan Damery(bateria) formam uma banda de blues e começam a tocar pelos bares e clubes da região. Em 1968 Rory dispensa seus amigos e chama Richard MacCracken(baixo) e John Wilson(bateria), mudam-se para Londres e assinam um contrato com a Polydor sob o nome "Taste". A gravadora então coloca-os para abrirem os shows do "Cream" a fim de promovê-los. Depois mandou-os para os Estados Unidos e Canada acompanhando o "Blind Faith". Foi uma grande oportunidade pois essas duas bandas eram super respeitadas, tinham Eric Clapton e Stevie Winwood como estrelas mundiais.


No início de 1969 eles lançaram o primeiro disco, "Taste", e um ano depois o segundo, "On The Boards", ambos com influências de Jazz, inclusive com Rory tocando Saxofone em diversas músicas. Era o ano do grande festival da Ilha de Wight, onde tocaram The Doors, The Who, Jimi Hendrix, entre muitas outras bandas de sucesso e eles se apresentaram num grande show com Rory simplesmente destruindo, mostrando todo seu virtuosismo, e seus parceiros também não fazem por menos. Esse registro foi gravado e  lançado em dezembro de 1971, quando a banda já havia terminado, com Rory partindo para carreira solo.


Rory era um vulcão em erupção, estava compondo exaustivamente e logo formou outra banda com Gerry McAvoy(baixo) e Wilgar Campbell(bateria) e ainda em 1971 lançou dois discos, o primeiro, chamado "Rory Gallagher", com participação de Vincent Crane no piano, e "Deuce", no final do ano. Dois discos excelentes que mostravam uma grande banda, não apenas um maravilhoso guitarrista.


No primeiro álbum, "Just the Smile" é de uma sutileza sublime, "Wave Myself Goodbye" é um blues de raízes profundas. Em "For the Last Time" Rory dedilha e sola como um mestre, sua guitarra transborda sentimento, além de cantar muito, o que também o faz em "I'm Not Surprise", acompanhado por um lindo piano. "Can't Believe It's True" traz toques de Jazz, Rory toca Saxofone, é um som com um ritmo muito gostoso. 


"Deuce" abre com "I'm Not Awake Yet", uma linda música. Em "Don't Know Where I'm Going" eles fazem uma incursão pelo Country. "Should've Learnt My Lesson" é outro daqueles blues autênticos. O disco finaliza com duas porradas, "Crest of a Wave" e "Persuasion", nas quais a banda mostra toda sua força e entrosamento.

Partiram então para uma grande turnê pela europa e essas apresentações conquistaram milhares de fans, alguns hoje ilustres, como The Edge e Adam Clayton, que afirmam que foi depois de assistirem um desses shows que decidiram formar uma banda(U2). A gravadora selecionou algumas músicas e aproveitou para soltar logo um disco ao vivo, chamado "Live Europe". Esse disco é, ainda hoje, considerado um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos.


Mais uma mudança na banda, entram Rod de'Ath na bateria e Lou Martin no piano para gravarem "Blueprint", lançado no início de 1973. Apesar da mudança, nada veio a prejudicar a banda, na verdade, quase não se percebe diferença entre esses discos, apenas o piano está mais presente, algo que só veio a enriquecer o som. O álbum fecha com "If I Had a Reason", uma linda balada, uma das músicas mais bonitas de toda carreira de Rory.


Ainda em 1973, no mês de agosto, lançam outro discaço, "Tattoo". "Tattoo'd Lady" começa rasgando o verbo, Rory cantando muito e esbanjando estilo, sempre muito bem acompanhado pelos seus escudeiros. "20/20 Vision" é uma música acústica com uma pegada bem jazzistica. "Sleep on a Clothes Line" tem as características marcantes de Rory, um autêntico blues rock. "A Million Miles Away" é outra daquelas de fazer chorar, uma belíssima balada onde Rory toca como que expondo sua alma, canta com o coração. Da turnê de divulgação desse disco saem as gravações para o próximo álbum ao vivo a ser lançado no ano seguinte, chamado "Irish Tour 74", outro petardo ao vivo que na época saiu como LP simples e em 2014, comemorando 40 anos, foi relançado numa edição de luxo com três Lps e livreto. As músicas foram tiradas das apresentações em 28-29/dez/73 em Belfast, 2/jan/74 em Dublin e 3-5/jan/74 em Cork.


"Against the Grain" nasceu em outubro de 1975, levou mais tempo que o normal para ser concebido, talvez pela mudança de gravadora, o que muitas vezes modifica o som da banda, mas isso não aconteceu. O disco é outro álbum de blues com algumas músicas flertando com o hard rock em "Let Me In", com o boogie em "Brought and Sold", mas basicamente permanece com a mesma sonoridade dos anteriores. Mais uma vez Rory nos faz sofrer com "Ain't Too Good", mas é aquele sofrimento bom, produzido pela sua velha e cortante Fender Stratocaster.


Exatamente um ano depois veio "Calling Card", oitavo disco da carreira solo de Rory e primeiro no qual ele entregou a produção a outra pessoa. O escolhido foi o baixista Roger Glover, do Deep Purple, uma das maiores bandas dos anos '70. Essa opção demonstrava que Rory estava mesmo flertando com o hard rock. As semelhanças na sonoridade desse disco com os discos do Deep Purple são enormes, "Do You Read Me", "Moonchild" e "Secret Agent" são temas que lembram demais a banda de Roger Glover. Em "Jacknife Beat" o blues volta com peso. "I'll Admit You're Gone" e "Edged in Blue" são músicas mais leves onde Rory desfila seus solos sentimentais com magnificência.


Algo estava realmente mudando na carreira de Rory. Depois de "Calling Card" ele novamente fez mudanças na banda, dessa vez trocou o homem das baquetas. Entrou Ted McKenna. Passou dois anos para lançar o próximo álbum, "Photo-Finish", que veio carregado de riffs, sem teclados, pesado como o anterior. Gosto dessa fase, mas é preciso apreciá-la sob essa nova perspectiva, de uma banda com fortes raízes no blues que respirava as mudanças no tempo e adaptava-se a ele. "Shadow Play" é um exemplo, muito boa, apenas uma amostra dessa energia. "Cruise on Out" é outra pedrada inspirada em Elvis.


Hoje, dia 30 de agosto, dia do meu aniversário, comemoro ouvindo esses discos, parte da discografia de um dos meus músicos preferidos. Além desses, Rory ainda lançou cinco discos até falecer em 1995 depois de uma cirurgia para transplante de fígado. 


Como presente para mim mesmo, comprei há poucos dias o relançamento em vinil duplo do álbum ao vivo do Taste, um disco fantástico que esperei muito tempo para conseguir. É um prazer imenso ouvir tudo que esse cara fez, desde suas lindas baladas aos seus potentes e cortantes solos de guitarra nas suas músicas mais pesadas. Adoro Rory cada vez mais. Um cara simples que veio da pequena cidade de Cork, na Irlanda.

Tenho mais um disco dele já comprado, o "Jinx", apenas esperando chegar, e vou continuar buscando os demais até conseguir toda sua discografia. Sinto por aqueles que não o conhecem e deixam de apreciar um músico tão excepcional, um guitarrista que figura tranquilamente entre os maiores de todos os tempos.






domingo, agosto 21, 2016

Obscured by Clouds


"Obscured by Clouds" é um disco que se confunde com aquele filho que não foi programado, foi gerado em um período em que os pais estavam extremamente férteis, quando a harmonia entre eles - nesse caso, os membros do grupo - era plena, quando as idéias e os pensamentos fluem por telepatia, quando o que se pretende é absorvido pelo parceiro com um simples olhar. 

Era início de 1972, a banda estava em plena ascensão e focada trabalhando naquele que viria a ser seu maior trabalho, seu disco mais importante e reconhecido internacionalmente como um marco na história do rock, aquele álbum perfeito, "The Dark Side of The Moon", quando foram convidados a gravar a trilha sonora para o filme francês "La Vallée". Como citei, a banda já estava em estúdio, já tinha várias idéias em andamento, então foi algo até fácil para eles, que entre os dias 23 e 29 de fevereiro daquele ano foram para um estúdio na frança e finalizaram o trabalho. O que talvez nem eles mesmos esperassem era que o resultado ficasse tão bom que logo mais em junho transformou-se no sétimo álbum do Pink Floyd.


Se pensado como uma trilha sonora para um filme, poderia se imaginar uma música ambiente, apenas com algumas nuances, mas não é. Se escutá-lo como um disco qualquer, nunca imaginará qual fora a ideia original. Não assisti o filme, não posso dizer como ela - a música -  foi colocada no contexto, porém o disco já escutei milhares de vezes e posso afirmar que existe sim um clima, que a música está ambientada para uma viagem no tempo e no espaço, mas em outro tempo, em outro espaço, aquele que você imaginar para se transportar e viver os mais belos sonhos, ou experimentar os mais profundos sentimentos.


Assim eu vejo e escuto "Obscured by Clouds", não como a grande maioria do fans do Pink Floyd que o subjugam, que não o enxergam com bons olhos. Acredito que talvez por nunca terem dado a devida atenção a ele, ou talvez simplesmente pelo fato dele ser tão próximo do absoluto "The Dark Side of the Moon", que brilha por si só e ofusca aqueles que estão mais próximos, e por isso ser ignorado como o irmão que é tão bonito, mas nem todos o veem por ser menor, por causa do mais novo que é simplesmente perfeito, magistral, e apresenta-se de forma impecável, é famoso no mundo inteiro, mas muito do que está nele, veio do seu antecessor que é também primoroso, sublime e genial.