A música inspira o surf.

Sempre estiveram presentes na minha vida. Chegaram juntos e tomaram conta dos meus pensamentos, fazendo com que, a eles, tudo esteja relacionado.

O surf é o meu estilo de vida. Ele dita o meu ritmo. Um amor que perdura por quarenta anos e está cada vez mais sólido.

A música é essencial. Torna momentos marcantes e inesquecíveis pelo simples fato de estar presente.

Nessa trajetória, já percorremos milhares de quilômetros em busca das melhores ondas, sempre embalados pelo bom e velho Rock 'n Roll.

domingo, fevereiro 21, 2016

Mark Lanegan - One Way Street


Vou voltar no tempo, num tempo um tanto conturbado, os anos '90. Já deixei muito claro que na minha opinião nenhum período foi tão prolífico e importante para a música, em especial o blues, o rock e suas vertentes, quanto os últimos anos da década de '60 e a década de '70. As bandas mais importantes, os melhores músicos, as melhores músicas, os discos mais perfeitos, as capas, as letras, tudo.

Dito isso, no entanto, não menosprezo as outras décadas. Posso dizer que os anos '80 tiveram a new wave e o heavy metal como estilos que marcaram o período e os anos '90 tiveram o grunge como revolução musical. E aqui estou para falar um pouco de um cara que foi um ícone desse período, e acrescento que ainda é, pois continua em plena atividade e ainda surpreendendo.


Para chegar a ele, considero relevante citar uma banda, a Screaming Trees. Em 1992 eles lançaram um petardo chamado "Sweet Oblivion". Esse disco chamou demais minha atenção. Duas músicas ficaram marcadas e até hoje eu as escuto regularmente e sinto a mesma energia, "Nearly Lost You" e "Dollar Bill". Na época, outras bandas como o Nirvana, o Pearl Jam e o Soundgarden estouravam, o Screaming Trees não, mas era a que mais me agradava, e em especial o seu vocalista, o Mark Lanegan.


Lanegan estava no Screaming Trees desde 1986, gravou com a banda por dez anos, até 1996, mas,  paralelamente, começou sua carreira solo em 1990, expandindo seu horizonte com seu ótimo album de estréia, "The Winding Sheet", um disco com fortes raízes no blues. Eu ainda estava curtindo demais o "Sweet Oblivion" quando descobri que Lanegan tinha este solo. Quando o escutei, fiquei chapado. O que era aquilo? Nada soava parecido, o som era sinistro, a voz do cara impressionante, profunda, rica, sensualmente proibida. Lembro que loquei o cd na extinta CdClub e fiz uma cópia, tanto da mídia como de todo material gráfico, em cores, para que chegasse o mais próximo do original. Como curti esse disco...


A partir daí, busquei os discos mais antigos da Screaming Trees e passei a acompanhar tudo que Mark Lanegan lançou posteriormente, tanto com a banda como em carreira solo. A banda só lançou mais um disco, em 1996, o "Dust", também muito bom, e Lanegan seguiu compondo e gravando vários discos excelentes como também participando de projetos paralelos, destacando-se em todos, Queens of the Stone Age, Mad Season, The Twilight Singers, The Gutter Twins, gravou dois lindos discos com Isobel Campbell, participou dos Soulsavers e ainda do "The Jeffrey Lee Pierce Sessions Project". Será que o cara é requisitado e competente?


Mas aqui, depois desse relato, quero registrar e mostrar para quem interessar o material especial que  recebi hoje, essa linda caixa com os cinco primeiros LPs da carreira solo de Lanegan, algo muito merecido que a gravadora Sub Pop acabou de colocar no mercado, "One Way Street". Na sequencia de "The Winding Sheet" veio "Whiskey for the Holy Ghost", depois de quatro anos, mas com Lanegan ainda ligado à sua banda de origem.


Com "Scraps at Midnight", que saiu logo depois, o laço de família estava rompido. Lanegan estava solto, mas só reforçava suas tendencias rústicas, voltadas ao blues e ao country obscuro do noroeste americano.


O tempo entre esses três primeiros discos foi de oito anos, quatro entre cada um. No entanto, agora sem compromissos com seus antigos parceiros, logo no ano seguinte, em 1999, Lanegan lançou "I'll Take Care of You". Um album um tanto diferente dos anteriores, mais folk, mais sensivel e leve, com piano e violino, porém sem abandonar a melancolia que lhe é característica. "Carry Home" abre o disco, uma música linda tocada por uma guitarra acústica dando a pista do que viria a seguir. São todas as canções de autorias diferentes, compositores que Lanegan admirava, e ele fez releituras, dando a elas sua cara. "Creeping Coastline of Lights" é absurdamente contagiante.


Por último, "Field Songs", de 2001. Este album teve a participação de diversos músicos amigos de Lanegan, fato este que talvez aponte para o caminho que ele viria a seguir participando de vários projetos distintos, gravando e contribuindo com inúmeros artistas. Mas a participação de tanta gente não afetou o som característico de Mark Lanegan, aqui mais uma vez está sua marca, é um disco profundo, melancólico e viajante, a voz rouca e sombria dá às músicas aquele mesmo clima lúgubre, macabro, desesperador.


Este é o Mark Lanegan que curto há aproximadamente 25 anos, tenho grande admiração por toda sua obra. Para mim foi uma grande alegria conseguir essa belíssima caixa com todo esse material, principalmente em vinyl de 180 g., pois permite com toda sua qualidade de gravação abrilhantar as nuances de cada música, tudo graças à boa vontade do meu amigo/irmão/cumpadre Igor Carvalho que não mediu esforços para trazê-la dos Estados Unidos em primeira mão. É algo que sempre terá um lugar especial na minha coleção.





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